Há pouco tempo disseram-me que eu não sei ser amado. Acredito. Não sei porquê, mas às vezes cheira-me que poderá ser verdade.

Para mim, em determinados momentos, amar é extraordinariamente simples. Anda algures entre o D. Quixote, o Mr. Morgan e o inevitável Walter Mitty. Do Mr. Morgan, o amar em silêncio, em segredo, até do próprio. O amar fora de tempo e de lugar. O amar fora da vida sonhada. O amar da borla. Silenciosa. Respeitosa. Fisicamente distanciada. Do Mitty, a transformação, a superação, o passar do sonho à realidade, o vale tudo, o que se lixe, o perdido por cem ganho por mil. E a frustração do desencaixe, do desadequado, dos pés pelas mãos, da camioneta demasiado pequena para tanta areia.  Do D. Quixote o cavaleiro cavalheiro, a indominável vontade de salvar uma qualquer donzela em perigo numa qualquer torre mais alta de um qualquer castelo e, sobretudo, a triste figura, a falta de senso, a falta de racionalidade, a falta de realidade. Pegue-se nos três, misture-se convenientemente e com cuidado, adicione-se uma pitada de fantasia e cabeça no ar e uma mão bem cheia de emoção e entusiasmo e temos eu.

Depois há um outro amar. Do cuidar. Do proteger. Da vontade de enfiar quem se ama numa redoma para que nada lhe possa acontecer. Da vontade de mimar. Da responsabilidade do cuidado da vida que, de alguma forma, foi confiada. Da corda bamba, do eterno medo, da eterna alegria. Do viver com, do chorar com, do rejubilar com. Do nosso, sejam vitórias, fracassos, batalhas, ganhos e perdas.

De comum? A intensidade. A necessidade. A inevitabilidade. A imensidão. O arrebatamento. Não sei viver sem um e sem outro. Duvido que valha a pena viver sem um ou sem outro. 

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