20180507
Conversávamos, agora com mais calma, enquanto caminhávamos, aquilo que havia sido dito, fugazmente, à distância. Sabia das suas decisões, das suas idas e vindas, das suas perdas e ganhos, das partidas e reencontros. Não é tudo mau, nas redes sociais, que estão muito longe de substituir o olhar mas vão servindo para nos mantermos a par do indispensável. Naquelas conversas - que antecipáramos numa espera paciente e cuidada - falávamos de escolhas e dores e silêncios e partilhas e sofrimentos e decisões complicadas. E de consciência. Tranquila uma vezes, conturbada outras. E procura. Serena uma vezes, desesperada outras. Somos ambos habitados pela procura. O que nos permite uma linguagem comum. Por vezes feita de palavras.
São duas forças distintas. Quase diametralmente opostas. São duas formas absolutamente distintas de tentar chegar ao mesmo lugar: a felicidade. Por um lado, o inconformismo. Não és apenas isto, és chamado a muito mais, és melhor quando és mais, és mais bonito quando te contrarias e te exiges sempre mais. E sou, efetivamente, mais, quando consigo não me render a mim. Por outro lado, a aceitação, o és como és, o ama-te como és, o mesmo assim vales a pena, o não és assim tão mau que tenhas que ser outro alguém. E sou, efetivamente, mais sereno quando me consigo aceitar. Ambos coexistem, ambos estão lá, ao mesmo tempo, e eu sou o homem elástico da extraordinária cena do Walter Mitty, constantemente disputado entre o que sou e o que devo ser.
Temos muitas formas de sermos absolutamente felizes. E nem todas implicam a escolha por nós próprios. Muitas vezes, até, implicam que não nos escolhamos, mas àqueles que amamos. Por vezes, acontece até por exclusão de partes: as escolhas são feitas não em função da nossa alegria mas da dor dor daqueles que amamos. Que quando é provocada por nós nos é tão insuportável que nos rouba qualquer possibilidade de felicidade. E por isso os escolhemos, em vez de nos escolhermos. É uma escolha por amor, sim. É uma escolha de amor, sim. E não é menos amor por isso. O amor, a felicidade, não tem compartimentos isolados.Não há bons ou maus motivos para amar. Há amar. E escolher em função desse amor. E viver em função desse amor, qualquer que ele seja. E há dor. Inevitavelmente, há dor. Nossa e alheia. Que, quando se ama, é mais nossa que a nossa própria dor. E por isso mais insuportável.
Em julho, quando fiz o retiro, não deixei de me sentir o homem elástico. Aceitei que sou o homem elástico. Há toda uma diferença!
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