Ser pai nunca foi um projeto. Assim como ser marido. Ou educador. Ou amigo e companheiro confessor e escutador e tudo aquilo que volta e meia vou conseguindo ser. Mesmo o ser profissional, eu tenho dúvidas se foi um projeto. Preparei-me, estudei, tive um vislumbre do que queria ser e, acabei sendo feliz fazendo algo que nunca tinha projetado como profissão. Na realidade, em tudo aquilo que me é de fundamental e verdadeiramente importante e decisivo, escolhi não projetar. Escolhi abandonar-me. Fechar os olhos e saltar. Se sonhei casar e ter filhos? Claro que sim. Desde sempre foi o elemento mais constante dos meus sonhos. Sonhava chegar a casa, abraçar por trás a minha mulher, que sorri quando chego, dar-lhe um beijinho no pescoço e ir rebolar no chão da sala com os filhos, que me contagiam com a sua alegria. Este era o meu sonho desde miúdo. E concretizei-o. Vezes sem conta. Ainda agora (exceto a parte do rebolar no chão da sala "ó pai, ó pai, tem juízo!!") Mas foram coisas sonhadas, não projetadas. Nunca nos sentamos a definir que casaríamos no ano x e teríamos os filhos no ano y e z. Sentávamos, decidíamos e avançávamos. Ou então - a maior parte das vezes - nem tínhamos tempo para nos sentarmos e ajustávamo-nos ao que a vida nos ia dando. Sempre com grande flexibilidade, sempre com a confiança a ultrapassar pela esquerda os medos que nos assolavam, que era muitos. Se é forma de vida que desejo para os meus filhos? Sei lá! O que eu desejo é que eles sejam felizes e sejam capazes de discernir o melhor caminho para lá chegar. Que é o seu e não o meu. Se me perguntarem, digo-lhes para não projetarem a vida em demasiado, para se ajustarem ao que a vida lhes vai dando e que se concentrem mais em ser felizes com a vida que têm que em ajustar a vida à sua ideia de felicidade. À medida que a idade vai avançando e vou conversando e vou partilhando, apercebo-me que todos nós temos momentos infelizes na vida, todos nós fazemos coisas das quais nos envergonhamos e todos nós, em determinada altura, metemos os pés pelas mãos. É tão certo como o respirar. Então se projetarmos tudo ao milímetro...
Aquilo que é verdadeiramente importante e significativo na minha vida, o que faz com que eu seja eu, o que me faz acordar todas as manhãs a sorrir, é muito mais o que me acontece - ou melhor, a leitura que eu faço sobre o que me acontece - que aquilo que eu programo acontecer. A isso, ao que programo, eu chamo agenda de trabalho. E não me liberta. De todo!

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