Hoje, quando soube da morte do Stephen Hawing sorri. Imaginei-o a chegar, surpreendido, junto do Pai e a ser acolhido de braços abertos e um sorriso ainda maior.

Tenho as maiorias das divisões como artificiais. Porto e Lisboa, Norte e Sul, Novos e Velhos, Católicos e Protestantes, Ateus e Crentes, tudo não passam de etiquetas que têm apenas o intuito de nos facilitar a vida, dificultando-a. Nunca me apercebi que fossem divisões efetivas, a não ser nas pessoas medrosas e mesquinhas. Todos temos a nossa própria história, todos somos sujeitos às nossas circunstâncias e todos lutamos contra elas até as incorporarmos devidamente, sabiamente, nas nossas personalidades. Claro que somos também o resultado delas, mas estamos longe, muito longe, de sermos gente apenas determinados pelas circunstâncias. Gosto sempre, por isso, de olhar bem à minha volta, de observar, de retirar as camadas que, cuidadosamente, todos colocamos em cima de nós para tentar ver quem existe por debaixo de tudo o que coloca em cima. É fascinante!

Adoro ler, devoro letras desde muito cedo na minha infância, mas não são as letras que me ensinam o que quer que seja. São as pessoas que estão dentro de cada leitura, são as que escrevem, são as histórias que escrevem, são a intenção da escrita, é a vida lida, sentida, sonhada, vivida, que me ensina. E eu seria profundamente estúpido se levantasse barreiras a aprender, a quem me quisesse ensinar, apenas porque não tem a etiqueta certa. Ainda um dia destes dizia que Saramago me ensinou muito da minha fé e da Igreja. Stephen Hawing também, claro, apesar de ambos estarem nos meus antípodas. Ou sobretudo por estarem nos meus antípodas e por intermédio deles eu ter que me questionar e à minha fé, ter que escolher, que tomar uma posição, uma decisão, tão válida quanto a de cada um deles, porque é a minha. Assim como a sua é a sua. Resulta dos nossos percursos interiores e exteriores.

Acredito mesmo que todos somos uma centelha de Deus. Todos. Ainda antes de sermos pessoas. Cabe à nossa inteira e exclusiva liberdade vivê-la como bem entendermos, nos moldes que entendermos, se o entendermos. Não tenho que a impor a ninguém - o primado da liberdade é para mim muito sério - nem sequer que a referir numa qualquer discussão, e muito menos usá-la como argumento. Mas foi justamente por causa dessa centelha que sorri hoje de manhã. Porque acredito nela. E sobretudo porque acredito no Pai que, para espanto do próprio, acolheu já Stephen Hawing junto de si.

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