Sou do cíclico. Sou da espera, do antecipar, do arrumar, engavetar, do projetar do futuro, do saborear o passado. Sou da distância, sobretudo se temporal, do repesar e do repensar, do refletir, do descobrir e decidir. Sou do diálogo entre o tudo e o nada, do fluir, do efémero, da fome de eternidade. Sou do hoje, do aqui, do agora, e do sonhar, do preparar, do anunciar. Sou da penumbra e da alvorada, da manhã que ainda não é manhã, da noite que ainda é dia. Sou do efémero, da areia que se escapa por entre os dedos, sou do tempo que passa e se torna passado, peso, âncora, raiz. Sou do deambular, do sempre novo, do descobrir, sou do reconhecimento do olhar, do antecipar, da certeza da espera. Sou da chuva num dia de sol, sou do reflexo do sol no chão que piso quando caminho no cinzento da manhã. Sou das gaivotas, das asas ao vento, da liberdade, sou dos elefantes, firmes e pesados, agarrados à terra, tendo como horizonte o lugar do último suspiro. Sou da verdade do "às vezes", da autenticidade do "nem sempre", da redutibilidade do "para sempre", do efémero "nunca mais". Sou do âmago, das entranhas, do tumultuoso profundo, sou do inconsciente, do inconsistente e inconsequente. Sou e não sou frequentemente, alternadamente, genuinamente, em função do vento, do sol da manhã, do sonho, do cansaço. E em tudo o que sou, o que procuro ser, sempre, é justamente, precisamente, almadamente, o que não sou. Em cada momento.

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