Como tenho a sorte de, por volta desta altura, estar sempre em Taizé, apenas sinto a Quaresma quando prepara a Via Sacra para a Uma Noite ComTigo. Há, naquele último percurso de Jesus, muitos dos nossos caminhos, muitas das nossas falhas, muitas das nossas dores.

Quando, com cerca de quinze anos despertei para estas coisas da fé, tive uma primeira abordagem à Palavra através da Bíblia em imagens, uma espécie de banda desenhada, que eu devorei de ponta a ponta. Lembro-me de me ter impressionado a história de Job, que desde logo assumi como minha, ou como uma das minhas mais fortes possibilidades de futuro. Desde então, quando as coisas apertam, lembro-me dele, da sua resiliência, da sua firmeza na fé contra tudo e contra todos, e esforço-me - em vão, mas esforço-me - para seguir o seu exemplo.

Confesso que não nasci para sofrer. Prefiro, de longe, viver o lado B da vida, voltar-me para o sol, para a luz, escolhendo quase sempre tentar ignorar a vida nas minhas costas. À custa disso sublimei quase tudo quase sempre, esperando que desaparecesse. Não desaparecia, apenas impregnava a vida, acinzentando o colorido, tornando-o mais baço, mais triste, menos vivo.

Na via sacra sinto sempre que sou crucificado com Jesus, que faço o seu percurso, que as suas dores são as minhas dores, que o seu sofrimento é o meu sofrimento, que o seu abandono é o que eu próprio sinto na escuridão da dor infligida. Tenho que estar muito consciente para perceber que estou do lado de fora da cruz: que sou eu quem condena, que sou eu quem insulta, que sou eu quem vocifera e que, na melhor da hipóteses, sou eu quem, no último momento, Lhe peço para se lembrar de mim.

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