Durante imenso tempo, achei que era tremendamente inútil aquele silêncio provocado nas eucaristias para nos recordarmos dos que nos tinham morrido. Não percebia para quê. Ontem, na eucaristia, dei comigo a não ter tempo para me recordar de todos aqueles que gostaria de recordar e que me morreram no último par de anos. Familiares, amigos, companheiros de noites despertas e testemunhas oculares de amanheceres inolvidáveis. Progressivamente, vão-me ocupando não apenas as memórias dos vivos mas aquelas que se associam à nostalgia do irrepetível.

Desde sempre que temo o para sempre. Recordo-me que antes de casar era isso o que mais me assustava. Para sempre é muito tempo, implica muitas variáveis, pressupõe a aceitação definitiva de demasiadas incertezas, alicerçadas numa confiança que, na maioria das vezes, tem tanto de fanfarronice como de inconsciente. Por isso há bem pouco tempo, numa daquelas alturas em que me pedem para discursar e lhes sai o tiro pela culatra, disse a dois recém casais que não acredito em casamentos para sempre mas em casamentos de todos os dias.

Para sempre é muito tempo. Demasiado tempo! Um tempo que, na verdade, pela fé, nem acredito que exista por estas bandas. Um tempo que é recortado de cada vez que, nas eucaristias ou em tantos outros momentos da vida, trago à memória as conversas, as noites mal dormidas, os amanheceres e os caminhos percorridos com aqueles que estão já junto do Pai. Um tempo que é muito mais um por agora que um para sempre. Porque acredito que daqui a pouco (a vida passa num pulo) o para sempre será, esse sim, o nosso tempo.

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