Pronto prévio: eu acredito no amor incondicional. Eu próprio, assim como quase todos os pais (mesmo aqueles que aparentemente não amam da maneira que entendemos ser melhor), vivo um amor perfeitamente incondicional há mais de 25 anos, que se tem prolongado no tempo e que se prolongará independentemente do que aconteça nas nossas vidas. Esse é o amor verdadeiramente incondicional que eu conheço: sempre total e totalizante, sempre arrebatador, sempre ardente, sempre imenso, pleno e infinito. Mas o amor de pai não é, de todo, um amor desligado. É  amor atento, nem que seja pelo canto do olho, é um amor presente, nem que se esteja longe, é um amor intrínseco, nem que seja subvalorizado.

Eu não acredito num amor a dois incondicional. Num amor onde seja permitido tudo, sem retorno, sem partilha, sem cumplicidade, sem construção, sem futuro. Amor a dois exige reciprocidade. Sem essa reciprocidade - que pode, ela sim, assumir muitas formas - é peso, é dependência, é doença. E ânsia de libertação. Que é o oposto de amar.

Para mim, o amor que está mais próximo da incondicionalidade e do desapego - e que por isso para mim é sublime! - é a amizade. Quem mais nos diz olhos nos olhos o que não gostamos mas precisamos tanto de ouvir? Quem mais se preocupa mais com o nosso próprio rumo que com a possibilidade de nos perder? Quem mais parte e regressa, uma e outra vez, depois de um mal-entendido, de umas palavras mal medidas, de umas atitudes precipitadas? Quem mais nos encontra no meio da rua depois de meses ou anos de separação e conversa com a naturalidade da retoma das conversas nunca interrompidas? Quem mais, tendo vida para além de nós, nos escuta como se apenas nós existíssemos?


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