"Não faço isto por promessa. É apenas para limpar a cabeça. Enquanto caminho não penso em mais nada."

Tirando o amor que nos temos, eu e o meu irmão não temos muito em comum. Dez anos mais novo que eu, é de uma outra geração e ainda por cima apanhou uma dinâmica familiar muito diferente daquela que eu apanhei, com todas as coisas boas e menos boas que isso implica. Não nos vemos nem conversamos muitas vezes - à semelhança do que acontece também com os meus pais e a minha irmã - porque existimos em mundos diferentes, mas sabemos da importância que temos uns nos outros.

Desta vez o pretexto do encontro foi uma festa de aniversário e às tantas a conversa fluiu para as nossas peregrinações a pé: Fátima, a dele; Santiago, a minha. Apesar de ambos termos uma vivência cristã assídua e importante para as nossas vidas sabemos que "peregrinação" é um termo exagerado para o que fazemos. Caminhamos, sobretudo, para nos encontrarmos no caminho e se nesse  encontro reencontramos e recentramos a nossa fé é mais por consequência que por causa. Nenhum de nós acredita num Deus que se compadece pela dor auto-infligida mas num Deus que nos habita e espera que Lhe demos espaço e oportunidade para fazer caminho em nós.

Não sei se será pela antecipação desse encontro profundo, mas existe em mim uma alegria interior quando estou de mochila às costas que dificilmente encontro noutra situação. O facto de apenas ter que me preocupar com que um pé suceda ao outro e deixar com isso que a cabeça, o coração e a alma e todo o meus ser se preencha com o que vai acontecendo dentro e fora de mim, faz com que aceite com toda a naturalidade as dores de pés, de articulações, de costas, de músculos - que nestas circunstâncias até nos são mais "visíveis" - como um suave preço a pagar por tamanho mergulho.

Porque o que conta. mesmo, são os quilómetros que fazemos em cada jornada. Dentro de nós.

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