Em dois dos maiores diários fomos submetidos, nos últimos dias do ano passado, a dois olhares da esquerda: Carvalho da Silva no DN, Jorge Sampaio no Público. O primeiro com um olhar muito mais radical, como a sua vida, o segundo com maior qualidade, como eu, pessoalmente, lhe reconheço. Mas são sempre dois olhares da esquerda. 

Se, por princípio, o que a esquerda é, muitas vezes, o alvo predilecto do meu próprio olhar, é indesmentível que vemos nos entanto coisas muito diferentes. O meu olhar está calibrado pela Doutrina Social da Igreja, essa coisa que para muitos católicos é perfeitamente desconhecida, mas que eu tenho como uma das bases sólidas do meu agir. é um olhar que coloca a humanidade e a dignidade da pessoa, de qualquer pessoa, acima de qualquer ideologia, de qualquer discurso de boas intenções, de qualquer programa político. é um olhar que, tendo necessariamente em conta a condição específica de cada homem ou mulher, promove as condições para que possam ser, eles próprios, a restaurar as condições da sua dignidade, por si esquecida algures no tempo. 

O meu olhar DSI tem muitos mais pontos de contacto com o olhar da esquerda que com o da direita. Por isso nunca foi difícil para mim trabalhar com pessoas da esquerda. No entanto, qualquer olhar que tenha a sua origem no olhar de Jesus tem que ser inclusivo, E aí é que por vezes as coisas se complicam entre nós. Eu não acredito que o dinheiro sirva para aferir o que quer que seja de alguém. Mas se não o serve para separar quem tem menos, também não pode servir para o fazer com quem tem mais. E esse é um erro recorrente da esquerda.

Sempre acreditei que não se pode mudar nada nem ninguém sem sujar as mãos. Que não se pode alterar o rumo de um barco que avança, desgovernado, num rio, gritando a partir das margens mas que é necessário ir lá para dentro, correr riscos, fazer parte da tripulação viver os seus perigos, sentir os seus medos, e depois, aí sim, tentar alterar o rumo das coisas. 

É sempre melhor olhar por dentro. É disso que a esquerda se esquece muitas vezes. E a direita, já agora. Mas isso são contas de outros rosários.

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