Alain-Laboile-Reflexion-Photography10

Não estou a atravessar uma fase particularmente feliz. Não tanto o eu total, mas a parte de mim que vive voltada para fora não está a atravessar uma fase particularmente feliz. Irrito-me com demasiada facilidade, agarro-me em demasia às minhas próprias ideias, e, pior que tudo - no que constitui o meu verdadeiro sinal de alerta - não me consigo aperceber sozinho que isso acontece. Preciso que o meu grilo falante - que seria de mim sem o meu grilo falante! - me alerte. E isso é terrível para mim, Ainda ontem, numa das minhas reuniões, ela me disse que isso tinha acontecido. E eu nem me apercebi.

Não tenho dificuldade nenhuma em escolher ser feliz. Escolher, sim, porque acredito que temos a capacidade de escolher a forma como vivemos os nossos dias. Basta apelar ao que de bom nos rodeia, basta educar o olhar, dar importância ao que nos puxa para cima e relegar para segundo plano tudo o que nos limita. Um pouco como quem varre para debaixo do tapete. Isso não elimina a sujidade, claro, mas permite que a sujidade não invada o nosso quotidiano. Então respiro fundo, olho à volta, sorrio, e preparo-me para absorver o imenso que a vida tem de bom. Então para quem vive os seus dias rodeado de gente genuinamente boa, como tenho a sorte de viver, este torna-se um processo muito fácil de concretizar.

No entanto, nem sempre tenho a capacidade de o fazer. Quando estou mais ocupado, mais envolvido no ruído dos afazeres do quotidiano, quando estou mais cansado, acabo por me ir afastando do que quero ser. Os meus dias vão-se sucedendo em catadupa, numa sofreguidão de vida que, em vez de me fazer chegar, me afasta, me remete para a espuma dos dias, me força a manter-me à tona, longe das águas profundas que são, indiscutivelmente, o meu habitat natural. Ainda ontem verifiquei, através do que fui escrevendo nestes últimos tempos, como por vezes posso ser amargo. E eu detesto ser amargo!

É nestas alturas que ela chega e, porque me conhece melhor que ninguém, porque me ama como mais ninguém, me desinquieta, me questiona, me põe em causa, criando em mim a necessidade de eu próprio o fazer, naquilo que constitui, para mim e para nós, o princípio do retorno à normalidade.

É por estas e por outras que um casamento, uma relação, tem muito que se lhe diga.
E é também por estas e por outras que anseio por Taizé.

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