"Talvez devêssemos ouvir Mozart juntos"


Sugere Tolentino Mendonça, Mozart como um dos caminhos para a redescoberta na amizade. Pessoalmente, prefiro Bach, mas não foi isso que me assaltou o pensamento.

Provavelmente de forma abusiva, veio-me logo à cabeça aquela cena de uma das melhores séries que já vi vária vezes e levei os meus filhos a ver: Band of Brothers.  Dessa vez, quis ver toda a série com os meus filhos. Tratando-se de uma série da Segunda Guerra Mundial, ao fim de dois episódios as raparigas desmobilizaram. Mas os rapazes não e vimos, juntos, todos os episódios pouco antes do Natal.

Durante o episódio em que os aliados descobrem, atónitos, o campo de concentração nazi, aparece várias vezes um conjunto de cordas a tocar uma peça de Beethoven sobre os escombros da vila destruída. Como no Titanic, a banda continua a tocar no meio da catástrofe, enquanto o regime se afunda.Como se trata de uma série e não de um filme, os episódios dão-nos o tempo necessário para nos questionarmos várias vezes e esse mesmo episódio anda cá por dentro desde que o vi na primeira vez, já lá vão alguns anos. Como foi possível que um povo assim, tão culto, tão mergulhado na música, na filosofia, na ciência, na arte, conseguiu escolher alhear-se ao sofrimento alheio, conseguiu escolher não ver, não reagir, não se indignar? Nesse mesmo episódio os aliados, no dia seguinte à descoberta do campo de concentração, forçam os habitantes da vila a limpá-lo, a remover os corpos mortos espalhados por toda a parte, a encarar a realidade que eles, se não construíram, permitiram que fosse construída junto de si.

Neste, mais que noutros episódios da série, o nosso silêncio enquanto assistíamos gritava.

Há muitas formas de educarmos os nossos filhos.
Deixar que o silêncio fale é apenas uma delas.
Fundamental.

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