Vejo, escuto e leio coisas de pais e de filhos, da sua relação, do que se mantém propositadamente oculto, ou ignorado, ou fingido - porque pais e filhos são mestre em fingir que não vêem - e questiono-me. Nunca quis que os meus filhos tivessem um vida separada da minha. Prezo muito a sua e a minha autonomia, batalhei muito para que eles se sentissem pessoas de corpo inteiro, desde que isso não implicasse que as nossas vidas fossem separadas. Para mim é muito importante que eles sintam sempre que eu estou. Para escutar, para opinar, para ralhar, para saber e poder dizer ou fazer alguma coisa.

Durante anos perguntei-me como me sentiria quando os meus filhos começassem a sair, a namorar, a ter os seus relacionamentos que qualquer miúdo normal tem. Curiosamente, mais que uma preocupação excessiva com o seu futuro, o que vou sentindo é justamente a necessidade de saber se estão bem, se vão conseguindo lidar com as coisas que lhes vão surgindo, se vão sabendo crescer harmoniosamente. Não sou - nem quero ser - o pai porreiraço que tudo permite mas também não sou - espero eu - aquele moralista que tem tanto medo do mundo que tudo tenta impedir. Acredito que o que tinha a transmitir em termos de valores fundamentais já está feito e agora é deixar que o tempo e a vida façam o seu trabalho. E cá estarei para o tão necessário trabalho da poda, para juntar os cacos sempre que for necessário.

O mais castiço disto tudo é que eu não sou nada presente para os meus pais. Passo semanas, por vezes meses, sem lhes telefonar. Penso neles todos os dias, tento saber se estão bem, mas fico-me por aí. Se calhar, é por isso que tento tanto que os meus filhos sintam que eu estou.
Sempre que eles o quiserem.
Qualquer que seja o pretexto.

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