Apesar de normalmente conseguir transmitir as minhas ideias com alguma clareza, há assuntos sobre os quais não o consigo fazer. Um deles, que eu sinto muito mais do que consigo explicar, é o da importância das opções da nossa vida, daquelas coisas que fazemos e às quais não damos muita importância mas depois, em determinada altura, se revelam muito importantes.

Ainda no passado domingo pensava como esta coisa da viola foi tão importante na minha vida. Comecei a tocar por volta dos 14, 15 anos, por puro prazer. Depois, quando apareceu a Capela na minha vida, descobri que a viola era uma boa maneira de congregar pessoas, de proporcionar boa disposição, e, porque não, de chegar às meninas - o que era fundamental porque a cantar não se gagueja. Fui descobrindo que a viola servia para muito mais: para rezar, para animar encontros e retiros, para tornar as pessoas mais alegres. E prometi - algo raro em mim, pelo menos naquela altura - que se Deus me desse o dom de tocar o utilizaria em Seu benefício e não no meu.

Parece piroso, eu sei. E até pode ter sido coisa de adolescente que quer muito algo. Mas o facto é que nunca esqueci essa promessa e ela acabou por ser decisiva na minha vida. Animar encontros de jovens, ser parte activa, assumir responsabilidades nas eucaristias, organizar sessões de catequese, falar para quem tinha diante de mim com o á-vontade possível, tudo isso deu-me uma tarimba que se veio a revelar fundamental para a minha vida profissional. Descobri uma fé que não tinha, que me questionou e me levou a mergulhar de cabeça. Aquela promessa foi o início de um percurso que me levou até à minha mais-que-tudo, aos meus filhos, à minha profissão, ao meu curso, a tudo aquilo que nesta altura me define como pessoa.

Tento transmitir isto muitas vezes aos meus filhos. Na altura de eles escolherem o seu caminho tentava que eles percebessem que o que importava mesmo era apaixonarem-se por algo e fazê-lo. Que nunca desejassem o que não estava ao seu alcance na altura mas, pelo contrário, que fizessem as omeletas com os ovos que tinham à mão. Que se se empenhassem nisso cedo se aperceberiam de outras matérias culinárias que estavam ali, à mão de semear, e possibilitariam uma vida absolutamente deliciosa, que capacidades têm eles de sobra. Não sei sequer se eles me escutaram, ou, se o fizeram, se escolheram isso. Confesso que também não me preocupei muito. Mais importante que ser eu a chegar-lhes os ovos é eles terem a capacidade de os descobrir.

E isso, Graças a Deus, tem acontecido.

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