Não é a mesma coisa ficar calado e falar. Não é a mesma coisa participar e encolher os ombros. Não é a mesma coisa fazer parte e passar ao lado. Nuns casos eu não estou, noutros estarei. Porventura em demasia, mas estarei. Mas não é a mesma coisa.

Cedo me apercebi que a minha escolha nunca seria entre participar ou não, entre falar ou não - com tudo o que isso implica de dificuldade para quem gagueja - entre estar ou não. Não sei não participar, não falar nem não estar. É daquelas coisas que em determinada altura da nossa vida descobrimos e depois limitamo-nos a aceitar e, quando muito, a tentar controlar danos. E é nesta gestão dos danos que incide o fundamental da minha escolha. Por vezes tenho uma tendência natural para ultrapassar fronteiras e tentar derrubar muros. Tendo a ir para além do que devia, quiçá ofuscado pelo meu brilho e de costas voltadas para a minha sombra. Por isso, por vezes estou tão metido comigo próprio que nem sequer me apercebo das múltiplas leituras que se podem fazer do que acabei de dizer. E quando tomo consciência disso, arrependo-me. Naturalmente. Tardiamente, porém.

Nestas ocasiões lembro-me sempre do meu sogro: "o Calado é um grande jogador!" Se por vezes o silencio é sinal de omissão ou desinteresse, noutras, porém, é sinal de espaço para o outro, de escuta atenta, de partilha mais profunda. É este o silêncio que me interessa aprender e cultivar. É este espaço para o outro em mim que me interessa desenvolver. E é neste sentido que ainda tenho muito que crescer.
Mas é este o caminho.

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