Hoje, foi um dia...

Estava a arrumar o computador e vi-os. Uma série de textos que escrevia em Quelimane quando o sono teimava em não sobreviver ao chamamento muçulmano das 5 da manhã. Li, reli, e quase não me reconheci naquelas palavras. Meu Deus! Já foi há tanto tempo! Como sempre acontece - cada vez mais forte! - fiquei com uma saudade daquelas ruas, daqueles meninos, dos meus meninos, da nossa casa, do nosso "santuário" onde fomos tão nós e tão felizes. Olho para aqueles textos como quem olha para uma pintura abstracta e tenta descortinar o que ia na cabeça do autor para ter feito tal coisa.

Hoje, foi um dia...

Tive que me resignar. Que deixar que, tal como acontecia em Quelimane depois daquelas chuvadas que tudo encharcavam, a poeira de cada um assentasse, que ficasse na soleira da porta, de permitir que cada um a sacudisse e voltasse ao que era... antes. À medida que o tempo passa começo-me a interrogar quem éramos verdadeiramente: se aqueles que eram um só, se estes que, salvo alguns fugazes momentos, é cada um por si. Somos ambos, claro. As circunstâncias é que são outras. Mudaram. E nós com elas.

Hoje, foi um dia...

O que lá se passou, o que lá passamos, juntos, isso ninguém tira. Se calhar, daqui por uns anos alguém dirá que aquela era a melhor versão de si, a que vive para os outros, a que se esquece de si mesmo, dos seus caprichos, destas pequenas niquices que teimam afogar o nosso melhor. Eu tive sorte, porque estive lá. Tive esse privilégio. E o melhor de tudo é que tivemos a capacidade de transmitir aos outros, aos nossos meninos, a nossa melhor parte.

Hoje, foi um dia...

E estas saudades que são cada vez mais fortes...

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