20120530
Agora mesmo fiquei muito feliz com a boa notícia da Maria João e do MEC: http://jornal.publico.pt/noticia/30-05-2012/desmorrer-24625658.htm
Nunca conheci ninguém que não deseje, profundamente, por vezes inconfessadamente - até para si próprio - um grande amor, alguém com quem partilhar a vida, o testo da sua panela, aquela pessoa com quem tudo passa a ganhar um novo sentido. Os anseios profundos de liberdade, de gozar a vida, de aproveitar tudo ao máximo, rapidamente dão lugar ao enfado, ao mais do mesmo, ao vazio profundo quando se chega a casa e se confronta com a própria sombra. Não nos completamos a nós mesmos sem o outro, sem aquele que nos serve de testemunha, de fiel da balança, de companheiro de conversas e vivências, de partilha profunda de tudo aquilo que a vida tem de mais profundo.
Há já muitos anos que espero, silenciosamente, pelo recrudescimento do amor de compromisso. À euforia sexual dos anos sessenta seguiu-se a euforia dos copos e, mais recentemente, a euforia do abismo. O que importa agora é a experimentação, a fruição das intensidades, o conhecimento dos limites, o esticamento desses próprios limites até ao inimaginável, ainda que isso implique viver o futuro com as marcas profundas no corpo e na alma. A minha experiência de sentar-e-conversar-a-sério leva-me a pensar que a maior parte deles se engana a si próprio. Que o que anseia é outro tipo de experimentação, de intensidade, de limites. Aqueles que saem de si e desaguam no compromisso com o outro, seja qual for a forma desse mesmo compromisso. Também por isso acredito muito nesta geração. Apesar das evidências, apesar daquilo que eles tanto se esforçam por mostrar, os sinais vão em sentido contrário: são cada vez mais os namorados de longa data que conheço, são cada vez mais aqueles que assumem abertamente o seu compromisso, são cada vez mais aqueles que, ainda que inadvertidamente, transmitem aos seus amigos que amar a sério vale a pena.
Acreditem quando afirmo que o amor comprometido, a dois, com futuro, vai voltar em força.
Eu acredito.
20120529
Por vezes, temos alturas em que as forças se unem para repararmos naquilo que é mais importante. Desde a semana passada que, por variadíssimas instâncias, aparentemente sem qualquer ligação entre si, tenho sido levado a recordar a amizade como o mais nobre dos sentimentos. Desde conversas sérias, longas e profundas - como a verdadeira amizade é - a programas de podcast, a encontros com amigos de longa data - eu sei, nunca nos reencontramos com os amigos de longa data simplesmente porque nunca nos separamos deles verdadeiramente - naquilo que tem constituído uma boa parte e uma parte boa dos meus dias.
Há muitos anos que considero a amizade o mais nobre dos sentimentos. Ainda ontem, enquanto escutava o Júlio Machado Vaz no seu absolutamente delicioso podcast, deixava-me navegar pelos (poucos) bons amigos que tenho, alguns de longuíssima data outros muito mais recentes, uns mais velhos que eu, outros bem mais novos, e todos tão importantes para o meu parco equilíbrio afectivo.
No domingo o Benjamim e a Goreti chegaram, quase sem aviso prévio, e como sempre, sentamo-nos em volta da mesa enquanto comíamos e falávamos de tudo e de coisa nenhuma, enquanto nos ríamos a bandeiras despregadas ou nos confessávamos assustados pelo estado da Nação. Tudo normal se esquecermos que já não estávamos assim, juntos, talvez há meia dúzia de anos. E que, como sempre, conversamos como se tivéssemos estado juntos todos os dias da semana passada, como se a vida não nos tivesse levado por caminhos diferentes, que no entanto volta e meia se vão cruzando.
São assim os amigos. Sem pruridos, sem cerimónias, sem bater à porta, sem pedir desculpa, sem nada na manga, sem perguntar se pode ser. Sabemo-nos uns dos outros. Sabemos para quem telefonar, com quem contar, a quem contar, qualquer que seja a hora, o dia, ou a questão. Sabemos que nem sempre gostam, nem sempre concordam, nem sempre nos dão palmadas nas costas, mas conhecem-nos o suficiente para distinguir a melhor altura para dar na cabeça ou afagar a cabeça.
O que seria de mim sem eles!
20120528
"...sabemos que pertencemos ao mesmo mundo:
o mundo dos que se amam e querem ficar de olho um no outro."
Há pessoas de quem não nos conseguimos esconder.
Há pessoas de quem não nos queremos esconder.
Há pessoas para quem nos queremos revelar, o mais rapidamente possível, o mais abertamente possível, para que possamos apresentar-nos tal como somos, simplesmente como somos, sem nada na manga, sem subterfúgios ou manchas.
Há pessoas para quem qualquer revelação não constitui surpresa porque algures, em qualquer momento, já nos conseguiram ler, voluntariamente, inadvertidamente, sem querer ou querendo-o, apenas porque sempre souberam que aconteceria assim.
Há pessoas com quem nos encontramos mal nos conhecemos, com quem nos descobrimos, com quem nos refazemos, com quem nos reconstruímos depois de deixarmos os cacos espalhados pelo chão.
Há pessoas por quem esperamos, sempre, com o coração inquieto, desassossegado, ansioso, porque sabe que vai mudar de lugar e passar a habitar, ainda que por momentos, noutras mãos.
Há pessoas que têm a sabedoria, a capacidade, o dom de perscrutar a nossa interioridade apenas com um olhar deixando-nos completamente à sua mercê. E felizes por isso.
Há pessoas que tornam os minutos menores à medida que vão tonando a nossa vida maior.
Há pessoas pelas quais louvo a Deus porque me fazem acreditar ainda mais n'Ele e na Vida.
20120524
Hoje, foi um dia...
Estava a arrumar o computador e vi-os. Uma série de textos que escrevia em Quelimane quando o sono teimava em não sobreviver ao chamamento muçulmano das 5 da manhã. Li, reli, e quase não me reconheci naquelas palavras. Meu Deus! Já foi há tanto tempo! Como sempre acontece - cada vez mais forte! - fiquei com uma saudade daquelas ruas, daqueles meninos, dos meus meninos, da nossa casa, do nosso "santuário" onde fomos tão nós e tão felizes. Olho para aqueles textos como quem olha para uma pintura abstracta e tenta descortinar o que ia na cabeça do autor para ter feito tal coisa.
Hoje, foi um dia...
Tive que me resignar. Que deixar que, tal como acontecia em Quelimane depois daquelas chuvadas que tudo encharcavam, a poeira de cada um assentasse, que ficasse na soleira da porta, de permitir que cada um a sacudisse e voltasse ao que era... antes. À medida que o tempo passa começo-me a interrogar quem éramos verdadeiramente: se aqueles que eram um só, se estes que, salvo alguns fugazes momentos, é cada um por si. Somos ambos, claro. As circunstâncias é que são outras. Mudaram. E nós com elas.
Hoje, foi um dia...
O que lá se passou, o que lá passamos, juntos, isso ninguém tira. Se calhar, daqui por uns anos alguém dirá que aquela era a melhor versão de si, a que vive para os outros, a que se esquece de si mesmo, dos seus caprichos, destas pequenas niquices que teimam afogar o nosso melhor. Eu tive sorte, porque estive lá. Tive esse privilégio. E o melhor de tudo é que tivemos a capacidade de transmitir aos outros, aos nossos meninos, a nossa melhor parte.
Hoje, foi um dia...
E estas saudades que são cada vez mais fortes...
20120518
Quando cheguei da minha caminhada da hora do almoço tinha dois papéis em cima da minha secretária: um afirmava que eu não sou simpático; o outro, que ainda não sequei. Bonito!
Sei, contudo, que pelo menos hoje não mereço mais nem melhor. Quando revejo o que foi a semana que agora termina não posso ficar minimamente satisfeito com o meu desempenho. Foi uma daquelas semanas onde tudo acontece, em que as coisas não desenvolvem nem dá para ver algo de francamente positivo. Andei a semana toda a esforçar-me por esconder o mau humor, dei algumas respostas indevidas a quem não devia, fui protelando o que tinha que fazer e quando o fazia não ficava bem feito, não fiz uma data de coisas que devia e inclusivamente deixei uma pessoa meio com as calças na mão, o que não é nada meu hábito e me faz sentir verdadeiramente mal. Como se não bastasse, a temperatura faz com que sinta como que uma película colada ao corpo. impedindo-o de respirar, e tudo termina com uma constipação (odeio estar constipado) que me impede de pensar.
Mas não é isto o mais grave. Aquilo que me magoa mesmo no meu desempenho é o que mais magoa os outros: estive muito pouco mental e fisicamente disponível. E isso é tremendo! Normalmente consigo estar para as pessoas, ouvi-las, brincar com elas, uma vez ou outra opinar, e tudo somado, isso costuma ser a parte mais importante da minha semana. Desta vez, contudo, não consegui fazer nada disso, o que me faz sentir que deitei a semana fora.
20120514
Pelo dicionário chegamos lá. Temos dois caminhos completamente diferentes, completamente dependentes das nossas pequenas escolhas quotidianas. Equilíbrio - Igualdade das forças de dois corpos que obram um contra o outro; Boa inteligência, harmonia.
Vistas assim as coisas, é fácil escolher. Ninguém quer passar a vida numa luta constante, num dirimir de forças que, não chegando a lado nenhum, ainda conduzem à exaustão. Ninguém no seu perfeito juízo se junta a alguém com a intenção de viver permanentemente numa batalha corpo a corpo, ininterrupta, tremendamente desgastante, terrivelmente destruidora. Ninguém se enfia de cabeça num projecto a dois que não tenha como pano de fundo a esperança, tantas vezes desmentida, outras tantas reconstruída, de uma via vivida em harmonia. Apesar de toda a propalada superficialidade, não conheço relação que tenha terminado sem dor. A dor de que tanto fogem, a dor que tanto tentam evitar, a dor que impede de estar de corpo e alma, acaba quase sempre por ser a origem efectiva da própria dor. Como se o medo de fracassar fosse meio caminho para o fracasso. Como se a obsessão de salvaguarda individual fosse caminho todo para nunca se deixar de ser indivíduo. E nada se mistura quando tudo permanece inteiro.
A questão é que o equilíbrio, por definição, não é fácil, permanente, garantido. Muito menos constante. Exige muito. Sempre. E os resultados nunca são definitivos.
20120511
Vejo, escuto e leio coisas de pais e de filhos, da sua relação, do que se mantém propositadamente oculto, ou ignorado, ou fingido - porque pais e filhos são mestre em fingir que não vêem - e questiono-me. Nunca quis que os meus filhos tivessem um vida separada da minha. Prezo muito a sua e a minha autonomia, batalhei muito para que eles se sentissem pessoas de corpo inteiro, desde que isso não implicasse que as nossas vidas fossem separadas. Para mim é muito importante que eles sintam sempre que eu estou. Para escutar, para opinar, para ralhar, para saber e poder dizer ou fazer alguma coisa.
Durante anos perguntei-me como me sentiria quando os meus filhos começassem a sair, a namorar, a ter os seus relacionamentos que qualquer miúdo normal tem. Curiosamente, mais que uma preocupação excessiva com o seu futuro, o que vou sentindo é justamente a necessidade de saber se estão bem, se vão conseguindo lidar com as coisas que lhes vão surgindo, se vão sabendo crescer harmoniosamente. Não sou - nem quero ser - o pai porreiraço que tudo permite mas também não sou - espero eu - aquele moralista que tem tanto medo do mundo que tudo tenta impedir. Acredito que o que tinha a transmitir em termos de valores fundamentais já está feito e agora é deixar que o tempo e a vida façam o seu trabalho. E cá estarei para o tão necessário trabalho da poda, para juntar os cacos sempre que for necessário.
O mais castiço disto tudo é que eu não sou nada presente para os meus pais. Passo semanas, por vezes meses, sem lhes telefonar. Penso neles todos os dias, tento saber se estão bem, mas fico-me por aí. Se calhar, é por isso que tento tanto que os meus filhos sintam que eu estou.
Sempre que eles o quiserem.
Qualquer que seja o pretexto.
20120510
Apesar de normalmente conseguir transmitir as minhas ideias com alguma clareza, há assuntos sobre os quais não o consigo fazer. Um deles, que eu sinto muito mais do que consigo explicar, é o da importância das opções da nossa vida, daquelas coisas que fazemos e às quais não damos muita importância mas depois, em determinada altura, se revelam muito importantes.
Ainda no passado domingo pensava como esta coisa da viola foi tão importante na minha vida. Comecei a tocar por volta dos 14, 15 anos, por puro prazer. Depois, quando apareceu a Capela na minha vida, descobri que a viola era uma boa maneira de congregar pessoas, de proporcionar boa disposição, e, porque não, de chegar às meninas - o que era fundamental porque a cantar não se gagueja. Fui descobrindo que a viola servia para muito mais: para rezar, para animar encontros e retiros, para tornar as pessoas mais alegres. E prometi - algo raro em mim, pelo menos naquela altura - que se Deus me desse o dom de tocar o utilizaria em Seu benefício e não no meu.
Parece piroso, eu sei. E até pode ter sido coisa de adolescente que quer muito algo. Mas o facto é que nunca esqueci essa promessa e ela acabou por ser decisiva na minha vida. Animar encontros de jovens, ser parte activa, assumir responsabilidades nas eucaristias, organizar sessões de catequese, falar para quem tinha diante de mim com o á-vontade possível, tudo isso deu-me uma tarimba que se veio a revelar fundamental para a minha vida profissional. Descobri uma fé que não tinha, que me questionou e me levou a mergulhar de cabeça. Aquela promessa foi o início de um percurso que me levou até à minha mais-que-tudo, aos meus filhos, à minha profissão, ao meu curso, a tudo aquilo que nesta altura me define como pessoa.
Tento transmitir isto muitas vezes aos meus filhos. Na altura de eles escolherem o seu caminho tentava que eles percebessem que o que importava mesmo era apaixonarem-se por algo e fazê-lo. Que nunca desejassem o que não estava ao seu alcance na altura mas, pelo contrário, que fizessem as omeletas com os ovos que tinham à mão. Que se se empenhassem nisso cedo se aperceberiam de outras matérias culinárias que estavam ali, à mão de semear, e possibilitariam uma vida absolutamente deliciosa, que capacidades têm eles de sobra. Não sei sequer se eles me escutaram, ou, se o fizeram, se escolheram isso. Confesso que também não me preocupei muito. Mais importante que ser eu a chegar-lhes os ovos é eles terem a capacidade de os descobrir.
E isso, Graças a Deus, tem acontecido.
20120509
Hoje voltou o sol e, com ele, o seu sorriso. Acabamos de almoçar - juntos - e saímos para dar uma voltinha, pequena, que o tempo não dava para mais. Depois eu segui, sozinho, podcast a zumbir aos ouvidos, como faço sempre que posso. os meus 10000 passos diários..
Conheço muitas pessoas que precisam de grandes coisas, grandes tempo, grandes passeios, grandes condições para se em momentos especiais. Nunca precisamos disso. Os nossos dias alimentam-se muito de pequenas batalhas ganhas, de pequenas conquistas que vão dando sentido aos nossos dias e às nossas vidas.
Saborear os pequenos momentos do quotidiano é uma arte. Acredito piamente que a nosso vida acontece no quotidiano e não nos acontecimentos especiais. Esses normalmente são muito fugazes e não justificam nem o trabalho nem a expectativa. Passam, como tudo passa, e se pensarmos bem, o que fica de bom são os pequenos momentos que neles acontecem: uma boa conversa, uma boa música, um bom jantar, um pezinho de dança, que não tem a ver com o acontecimento em si mas com o facto de termos tido a capacidade de o transformar em mais um pequeno momento nosso.
20120505
Não é a mesma coisa ficar calado e falar. Não é a mesma coisa participar e encolher os ombros. Não é a mesma coisa fazer parte e passar ao lado. Nuns casos eu não estou, noutros estarei. Porventura em demasia, mas estarei. Mas não é a mesma coisa.
Cedo me apercebi que a minha escolha nunca seria entre participar ou não, entre falar ou não - com tudo o que isso implica de dificuldade para quem gagueja - entre estar ou não. Não sei não participar, não falar nem não estar. É daquelas coisas que em determinada altura da nossa vida descobrimos e depois limitamo-nos a aceitar e, quando muito, a tentar controlar danos. E é nesta gestão dos danos que incide o fundamental da minha escolha. Por vezes tenho uma tendência natural para ultrapassar fronteiras e tentar derrubar muros. Tendo a ir para além do que devia, quiçá ofuscado pelo meu brilho e de costas voltadas para a minha sombra. Por isso, por vezes estou tão metido comigo próprio que nem sequer me apercebo das múltiplas leituras que se podem fazer do que acabei de dizer. E quando tomo consciência disso, arrependo-me. Naturalmente. Tardiamente, porém.
Nestas ocasiões lembro-me sempre do meu sogro: "o Calado é um grande jogador!" Se por vezes o silencio é sinal de omissão ou desinteresse, noutras, porém, é sinal de espaço para o outro, de escuta atenta, de partilha mais profunda. É este o silêncio que me interessa aprender e cultivar. É este espaço para o outro em mim que me interessa desenvolver. E é neste sentido que ainda tenho muito que crescer.
Mas é este o caminho.
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