Para além de todas as teorias, de todas as homilias, de todas as liturgias, há duas atitudes fundamentais de Jesus que me levaram e levam todos os dias a tentar aderir, de corpo e alma, à fé cristã: acolher e perdoar. Nas turmas onde tenho testemunhado algumas destas coisas de viver com Deus dentro refiro sempre a profunda humanidade de Jesus. Sim, para mim, Jesus é a imagem do Pai, é o Seu filho, é aquele que une céu e terra, no sentido em que, sendo Deus, vem ao nosso encontro e, sendo homem, leva-nos ao encontro com o Pai. No entanto, para alguns daqueles a quem eu falo, dizer isto é dizer pouco mais que nada. Por isso falo-lhes da humanidade de Jesus, da maneira como Ele sentava e conversava, no olhar que fazia incidir sobre as pessoas que habitavam as margens a quem, invariavelmente, fazia recordar uma dignidade que todos davam como perdida. A começar pelos próprios. E recordo-lhes como isso é algo que todos podemos fazer. Não precisamos de ter fé, não precisamos de ter grandes teorias nem de grandes questões. Precisamos, sim, de reaprender a olhar para quem temos diante de nós, qualquer que seja a sua e a nossa circunstância, e nos recordarmos - e fazermos recordar - da sua dignidade. À fé chegar-se-à noutras alturas, porventura mais tarde, aquando da interrogação de onde provém tamanha dignidade, ou daquilo a que um padre em Taizé sabiamente chamava "dor nos ossos", referindo-se às grandes questões que nos abanam até ao tutano quando a vida nos põe à prova. Até lá, não nos fará mal nenhum recordarmos esta verdade simples e absolutamente decisiva para que o Reino possa ser já hoje, aqui e agora, ainda que não na sua totalidade: todas as pessoas têm, em si, conscientemente ou não, uma dignidade que lhes é inalienável, qualquer que seja a sua circunstância, qualquer que seja a sua história de vida, quaisquer que sejam as consequências dos seus atos. E muitos vezes só precisam que alguém lhes recorde disso mesmo. Eu que o diga!
Depois de uma Jornada que, por todos os motivos e mais um, me encheu a medida, estou, finalmente! de férias. Como sempre acontece, ontem fui à missa. Uma igreja pequenina, fora dos grandes centros, predominantemente com avós e alguns netos. No altar, um sacerdote que poderia ser avô, a debitar, solene e profusamente, sobre o que aconteceu na JMJ: a maravilha que é ter tanta juventude reunida, a enorme importância do silêncio - que, segundo ele, os jovens não conseguem fazer (e ele não se calou um segundo!) - a organização da Igreja, capaz de congregar gente de todo o mundo, e sobretudo a centralidade da eucaristia dominical pois sem a paróquia nada se consegue. E termina a homilia assim: vamos rezar pelos nossos jovens, para que eles descubram que é possível a alegria na Igreja. Como se a alegria em que vivi mergulhado na semana passada acontecesse por causa deles e não apesar deles! Confesso que me torci todo com aquela homilia autoreferencial. Como é possível, depois do que vivi, dep
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