De entre os inúmeros aspetos da minha personalidade que, pudesse eu, seriam rifados com uma alegria imensa, há um que me mete sempre em trabalhos. Não sei bem porquê, mas não sou muito dado a unanimidades. Quando está toda a gente de acordo, com um olhar monofocado sobre o que quer que seja, eu descubro-me a, instintivamente, procurar a falha e a alterar a forma como eu vejo a coisa. Nesta altura com a guerra na Ucrânia, passa-se um bocadinho isso. Claro que sou contra a estupidez do Putin, claro que é uma agressão bárbara, claro devemos fazer tudo para acolher os refugiados, claro que estamos todos de acordo que nestas alturas quem se lixa é o mexilhão e é para ele, fundamentalmente, que devemos olhar e, sobretudo, acolher. No entanto, isso não me faz tecer loas nem à Ucrânia nem ao seu presidente. Nem me predispõe grande coisa a embarcar nas inúmeras campanhas de solidariedade que nesta altura abundam por esta europa fora. Por um lado por causa do excesso de emotividade - que me põe sempre de pé atrás nestas coisas; por outro, por insuficiência de racionalidade da forma de apoio. Mas isso eu até entendo: nós comovemo-nos com facilidade e, ainda que o efeito não seja totalmente cumprido, pelo menos é sinal que não estamos ainda inteiramente adormecidos. O que tenho mais dificuldade em entender é este preto e branco absolutamente distintos, este culpados e inocentes absolutamente claros, esta diabolização do Putin e glorificação do Zielisnki. Talvez seja porque a história já me ensinou à saciedade a não acreditar em homens providenciais. Talvez seja por saber que é "apenas" política. Talvez seja por saber que enquanto nos movemos pelas imagens da televisão, não ligamos puto ao que se passa noutro ponto do globo... ou ao fundo da rua. Não que isto nos deva impedir de acudir a quem precisa. Seja quem for. Mas porque não sou tão otimista que acredite que. logo que o fogo passe, voltemos a atenção para outra coisa completamente diferente. A começar por mim.
Depois de uma Jornada que, por todos os motivos e mais um, me encheu a medida, estou, finalmente! de férias. Como sempre acontece, ontem fui à missa. Uma igreja pequenina, fora dos grandes centros, predominantemente com avós e alguns netos. No altar, um sacerdote que poderia ser avô, a debitar, solene e profusamente, sobre o que aconteceu na JMJ: a maravilha que é ter tanta juventude reunida, a enorme importância do silêncio - que, segundo ele, os jovens não conseguem fazer (e ele não se calou um segundo!) - a organização da Igreja, capaz de congregar gente de todo o mundo, e sobretudo a centralidade da eucaristia dominical pois sem a paróquia nada se consegue. E termina a homilia assim: vamos rezar pelos nossos jovens, para que eles descubram que é possível a alegria na Igreja. Como se a alegria em que vivi mergulhado na semana passada acontecesse por causa deles e não apesar deles! Confesso que me torci todo com aquela homilia autoreferencial. Como é possível, depois do que vivi, dep
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