Espanto dos espantos: todos nós somos diferentes em função da companhia. Talvez não na essência - embora por vezes aconteça - mas na forma, com certeza que sim. Não faria sentido, aliás, se assim não fosse. Se não tivéssemos pessoas especiais e momentos especiais não teríamos amigos nem namorados nem casamentos nem confidentes e seria tudo a mesma coisa. E sabemos como isso não acontece. E sabemos também que não falamos com todos da mesma maneira, não dizemos a todos o mesmo e muito menos com a mesma profundidade. E isso não é menosprezo, mas escolha, o que torna as nossas pessoas muito especiais. As minhas são. E mesmo essas não se deparam com a mesma versão de mim. Até por causa das circunstâncias! Eu, por exemplo, tenho extraordinária facilidade em me comover enquanto testemunha direta de uma qualquer dor e, pelo contrário, tenho enorme dificuldade em agir à distância. Ainda agora, com a pandemia e, depois, a guerra da Ucrânia, confirmei que me é muito mais natural e imediato entregar-me a alguém para quem trabalho e passa dificuldades, que mobilizar-me para enviar bens ou dinheiro ou a mim próprio para uma situação que se passa longe daqui e com pessoas que não conheço. Se racionalizar a questão até chego lá, claro, e sei que é horrível, e acabo por me comover (sempre no sentido de mover com) mas nunca é um processo imediato. Por isso, é natural que, nas conversas com os meus filhos, eles por vezes pensem que o pai deles é alguém que se preocupa com os outros e noutras alturas, em função do que estamos a discutir, que eu não quero saber deles para nada. Quer isto dizer que me falta a justa medida, a perspetiva global, que sou inconstante e inconsistente? Talvez. Não digo que não. Mas também por isso me são tão importantes aqueles que amo, aqueles com quem converso, aqueles com quem aprendo, aqueles que leio e observo, todos os dias. Porque encontro neles o fiel da minha balança, a minha medida, as pessoas com quem me meço na sempre presente tentativa de descortinar o meu lugar. Por isso eu chego, invariavelmente, à conclusão, que sou melhor pessoa com as minhas pessoas que sozinho. E isso, para além de ser muito bom, é uma sorte do caraças. Quando me imagino noutro contexto... não seria bonito!

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