Foi um grande início de manhã. A foz estava fria, nebulosa, quase deserta, como eu gosto, com o nevoeiro a esconder da vista os navios ao largo e o sol a espreitar a medo. A areia estava pejada de gaivotas, estacionadas, à espera dos primeiros raios que lhes secassem as penas e lhes retornasse a vontade de sair daquela doce modorra e lhes devolvesse a vontade de voar. Eu já tinha começado. A voar. Cá por dentro. Numa doce sintonia com o que se passava fora de mim, diante dos meus olhos. Há já imenso tempo que não amanhecia assim. Tão em sintonia. Talvez seja da semana maluca que tenho tido. Talvez seja da dolorosa cerimónia de ontem, que me abanou até ao tutano. Talvez seja da súbita consciência das enormes graças que devo. A Deus. Aos que amo. Aos que me acompanham. Aos que não gostam de mim.

Vou tendo alguns momentos destes.
Em que podia morrer. Feliz. Cumprido.
Em que em entrego à Vida.
Feliz.
Cumprido.

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