Uma das coisas mais ou menos boas de se ter filhos adultos é escutar o que eles têm a dizer de nós próprios. Uma das minhas filhas é muito crítica em relação a tudo. A começar por ela própria, esticando-se, não raras vezes, para além dos seus próprios limites. Já lhe disse que penso que irá longe em termos profissionais, embora tenha algumas dúvidas se alguma vez terá paz. No entanto, paz para ela tem um significado um pouco diferente do meu. Ela fica em paz quando consegue fazer o possível e o impossível para alterar uma qualquer situação com a qual não concorda, seja aqui ou na conchichina.
A minha paz é algo de muito mais pessoal e interior. E difícil de alcançar. E proporcionar à minha volta. E era justamente a propósito disso que conversávamos ambos no outro dia. Eu tenho andado mais silencioso, mais metido comigo mesmo, no meu mundo, como eles dizem. Os meus filhos têm muitas memórias de um pai sempre às cambalhotas com eles, sempre a rebolar pelo chão, muito físico, muito presente, muito tudo. E por isso agora estranham bastante os meus silêncios e os meus refúgios interiores. Que são cada vez maiores, mais presentes e mais evidentes. E muito estranhos, aos seus olhos.
Neste fim de semana, numa outra conversa familiar (parece que eu ando na ordem do dia lá de casa), eu tentava-me justificar alegando que sempre fora assim. E recordei os primeiros dias de Moçambique quando o pessoal de casa estranhou bastante que eu não estivesse sempre aos saltos e me perguntava insistentemente porque estava chateado. E eu lá respondia que não estava chateado, mas não era apenas aquela faceta pública que eles reconheciam mas que tinha e precisava de momentos longos de silêncio.
Nesta conversa recordaram-me que eu tenho responsabilidades para com os outros. Que fui eu quem vendeu essa imagem de poço de alegria e que agora não podia defraudar quem a espera de mim. Fiquei sem saber o que dizer. À autenticidade com que sempre fiz as coisas - quando salto apetece-me saltar, quando me recolho apetece-me o silêncio - não me apetece nada suceder com a artificialidade de quem representa um papel. O pormaior da coisa está no viver para os outros. Não tenho nada a certeza que o recolhimento me faça mais feliz que o voltar-me para os outros. Mas também o oposto me levanta sérias questões.  
Provavelmente, o melhor é nem pensar muito nisso e tentar continuar a ser autêntico. Se não entenderem... paciência!

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