Eu orgulho-me de, regra geral, respeitar o espaço de cada um. Nem sempre acontece, ou melhor, nem sempre consigo que aconteça, particularmente com aqueles que me são mais importantes. Talvez pela proximidade (física, afetiva, emocional), em determinadas alturas não consigo discernir com clareza o que é demais e chego até a ultrapassar limites que em situações normais eu próprio me imporia com todas as escassas certezas que me habitam. Ainda recentemente me disseram que eu sou naturalmente transgressor, o que - como acontece com todas as verdades verdadinhas que apenas aqueles que me amam me dizem - a princípio estranhei mas depois entranhei tentando averiguar da veracidade da afirmação (acusação?).

Era verdade.

Um dos meus maiores anseios - creio que de toda a humanidade - é poder voltar atrás. Recuar. Refazer, Conseguir que o que aconteceu nunca tivesse acontecido. Que o que se perdeu nunca tivesse sido perdido. Que o que se ganhou permanecesse ganho. Não tanto porque não tivesse sido bom, ou memorável, não porque não tenhamos aprendido nada com isso, não porque eventualmente sintamos agora alguma culpa, ou rebates de consciência... mas apenas porque deixou marcas. E provocou afastamentos.

E, a mim, pelo menos a mim, os afastamentos doem como o caraças!

Volta e meia penso no que faria perante a possibilidade (agora estranhamente mais palpável) de me ser dito que me restaria pouco tempo de vida. Imagino-me sempre a convocar um jantar com todas aquelas pessoas com quem, em determinada altura da vida, transgredi, e se afastaram, e a reatar o contacto com elas. Valha a verdade que não seriam tantas como isso - e provavelmente algumas delas nem se recordariam dos motivos do afastamento - mas de certeza que eu partiria mais descansado.

Regresso à base. "Ao que queres ser", que é bem diferente do que vou sendo. Tentando respeitar os que amo e, sobretudo, tentando recuperar o seu respeito.

Que não seja tarde!

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