"Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer." 
Lc 9, 33

Tempo de chegada, tempo de partida. 
Foi um tempo de chegada e um tempo de partida. 
Simultâneamente. 
É sempre tempo de chegada e tempo de partida. 
Simultâneamente. 

Vou a Taizé como quem vai a uma ótica: para arranjar as lentes. As minhas lentes. Vou focar, outra vez, porque o meu olhar, ao longo do ano, vai perdendo acuidade. Lentamente, progressivamente, vai adormecendo, arrastado pela vida, que me vai cozendo em lume brando. Lentamente, progressivamente, vou deixando de ver, passando a apenas olhar. Lentamente, progressivamente, vou deixando de valorizar a extraordinária beleza das coisas simples, a fundamentalidade das coisas simples, e vou ligando-me ao complicador. Lentamente, progressivamente, vou deixando de apreciar os pequenos gestos, os pequenos sorrisos, as pequenas partilhas, embrenhado num quotidiano que me pede sempre mais e melhor e mais rápido e mais eficaz, roubando-me a mim próprio o tempo de parar, avaliar, apreciar, encontrar, silenciar, rezar. Lentamente, progressivamente, vou desfocando o olhar que lanço sobre mim, principalmente sobre mim, e vou permitindo que os tantos que me habitam se sobreponham uns aos outros, lançando a confusão, alimentando-se da dúvida, da dívida, do medo, do anseio. Lentamente, progressivamente, começo a sentir a falta, de mim, de parar, de me encontrar, no amor e do amor, de Deus, dos outros, de mim.

Em Taizé permito-me. O abandono, a entrega total, a partilha, a alegria, a serenidade, a paz. Porque em Taizé tudo é o meu desencontro a dar lugar ao meu encontro. Tudo é o meu destempo a dar lugar ao meu tempo, Tudo é a minha inquietude a dar lugar à minha quietude. Tudo é o meu barulho profundo a dar lugar à serenidade profunda. Tudo é o meu velho a dar lugar ao meu novo, que brota desse encontro profundo comigo e com Deus nos outros e através dos outros. Taizé abala-me as estruturas como quem sacode a toalha antes de a colocar sobre a mesa para que a refeição possa ser servida. Taizé é o tudo no nada ensinando-me sempre a ser nada no tudo. É regressar à casa do Pai para que O possa levar de volta comigo, para a minha casa.

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