De vez em quando fazem-me perceber que ando alheado do mundo que me rodeia. Mergulhado no imenso trabalho que tenho sempre, particularmente no início de cada ano letivo, esqueço-me facilmente de tudo o que pulsa uns escassos centímetros acima do ecrã do computador. Nos últimos dias, já vou em três chamadas de atenção, vindas de pessoas e lugares muito diferentes entre si. A última foi ontem, quando ia buscar os miúdos do RAIZ à escola. Estava lá o João e eu disse-lhe que já não o via há muito tempo "Ainda agora estive lá, Setor, mas não me viu. Está sempre no computador e nem sequer joga bola connosco!" Acusei o toque, claro, e anotei mentalmente: meter as sapatilhas na mala do carro. E dar-lhes uso. Todas as tardes!

Nos primeiros tempos do RAIZ bati-me fortemente para que percebessem que jogar às cartas, jogar à bola, sentar em volta de uma mesa a contar anedotas, são formas de educar tão ou mais válidas que metê-los numa sala a estudar matemática ou português. São esses os momentos em que aqueles miúdos estão particularmente abertos e atentos à forma como gostamos deles, como lidamos com eles, como os fazemos sentir nossos, e é isso, apenas isso, apenas essa ligação afetiva que irá fazer com que eles nos escutem e tomem em consideração o que temos para dizer. E o João disse-me que eu já não fazia isto. Aprende, Zé, que não duras sempre!

"Vim apenas para estar contigo". Nos últimos tempos comunicamos apenas por questões de trabalho, mergulhados nas nossas vidas, embrenhados nos nossos projetos, desabituados de estarmos juntos, a falarmos de tudo e de nada, que era justamente aquilo que os unira antes. Soube-me mesmo bem! Pouco depois falamos de trabalho, mas de uma outra forma, mais pausada, mais nossa, dando-nos espaço para apre(e)ndermos um do outro. Soube-me bem. Mesmo muito bem. Uma chamada de atenção de alguém que me conhece muito bem e que sabia que apenas dessa forma me conseguiria despertar de forma eficaz. Aprende, Zé, que não duras sempre!

"Ambos merecemos esse abreijinho". Uma alegria em forma de email durante o fim de semana. Um promessa interior, depois formulada em voz alta, que ainda não se concretizou. Já nos cruzamos, já passamos um pelo outro, já lemos nos olhos um do outro a deceção de não ser aquela a altura certa, o momento pelo qual esperamos. E continuamos a esperar. Talvez seja hoje. Há pessoas e momentos de pessoas que são demasiado importantes para correr sequer o risco de desperdiçar, sob pena de sentir que é a própria vida estou a desperdiçar. Aprende, Zé, que não duras sempre!

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