Não têm sido tempos nada fáceis! A vida teima em por-nos à prova. Em por-me à prova.

Sento-me e faço aquilo que me é mais fácil fazer: escolho as palavras, jogo com elas, com a sua sonoridade, com o seu ritmo, atribuindo-lhes uma cadência própria, até trazer ao de cima o que tenho cá por dentro e que muitas vezes vou descobrindo à medida que vou escrevendo. Não me é difícil. Muitas vezes basta-me deixar-me levar, sem sequer me preocupar com o sentido, lendo apenas no fim, descobrindo apenas no fim, quando leio.

Difícil é quando sou posto à prova. Quando consciencializo que tenho que transformar as palavras em atos, concretos, com pessoas concretas, que vivem situações concretas. Pessoas de quem não gosto particularmente - eu, que digo que gosto de pessoas! - e que precisam que eu seja menos como sou e mais parecido com o que escrevo. Pessoas que me trazem as parábolas à memória. Pessoas que me roubam as desculpas. Pessoas que me forçam a ver-me do outro lado do espelho. Sem artifícios. Sem subterfúgios. Sem fugas. Pessoas que me revelam a mim próprio bem melhor que todas as palavras que possa escrever. Pessoas que, por isso, me fazem gostar muito pouco de mim.

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