Volta e meia sinto uma saudade imensa. Estúpida. Sufocante. Estúpida porque não se refere a algo que eu já tenha vivido e por isso recorde, mas porque se refere a algo que ainda não vivi, ou melhor, é uma saudade de algo que não chegarei nunca a viver. Nem sequer são saudades do futuro, porque esse nunca chegará, mas das hipóteses de futuro que, à medida que o tempo vai passando, à medida em que eu, nesse tempo que passa, vou fazendo as minhas escolhas, vão sendo cada vez menos escolhas, vão sendo cada vez mais memórias de sonhos... que nunca chegarão a memórias de vidas. Ainda é mais estúpido porque a vida e os que me rodeiam têm-me proporcionado a verdadeira bênção de poder fazer, a cada momento, as melhores escolhas. Neste tempo de paragem - as férias são sempre alturas difíceis para mim - talvez até por ser o meu 50º ano de vida, tem-se propiciado fazer uma série de balanços. E eu adoro a minha vida. Os últimos dez anos, então, têm-me dado a conhecer horizontes que sempre acreditei estarem para lá dos meus limites, e sinto-me profundamente grato, por isso. A cada dia, a cada instante! Saudades, então, de quê?

Sempre fiz as minhas escolhas com elevada dose de leviandade porque sempre fiz as minhas escolhas com elevada dose de confiança. Sempre fui muito mais de fechar os olhos e saltar que de programar passos e tempos e vidas. Foi sempre assim nos momentos mais importantes e decisivos: uma vez colocada a possibilidade, importava mais saltar, com um sorriso, que programar. Uma vez saltado, importa mais viver, com um sorriso, que lamentar. Sejam quais forem as circunstâncias. Seja qual for o nível de arrependimento que, inevitavelmente, em segredo, no escuro, acontece. Sempre fui muito mais de saborear o que a vida me ia dando a saborear e a procurar o melhor de cada momento para o apreciar convenientemente. E aprecio, verdadeiramente, por entre a azáfama constante do meu quotidiano, por entre as descobertas e as partilhas e as orações e as graças que, invariavelmente, inevitavelmente, sinto que devo dar no final de cada dia.

Mas paro. Há alturas em que paro. E o tempo de paragem é sempre um tempo difícil para mim. Não pelo confronto comigo mesmo e com as minhas escolhas e com a minha vida. Dou Graças por tudo isso. Mas pelo confronto com o que não vou sendo, o que não vou conseguindo ser, o que vou adiando ser, o que vou desistindo ser. É inevitável que isso aconteça. Seria sempre inevitável que isso acontecesse. Quaisquer que fossem as minhas escolhas, qualquer que fosse o meu percurso de vida - e poderia ter sido tão diferente! - haveria sempre um tempo de paragem em que me confrontaria com o que vou deixando de poder ser, e isso seria sempre de certa forma doloroso. Porque isso seria sempre confrontar-me com os meus limites, com a minha própria - diria dolorosa - finitude.
E esse, nunca me é um confronto fácil.

Apesar de me remeter para Aquele cuja finitude é inexistente.

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