Fui matar saudades. Sozinho, como por vezes gosto, apenas com o mar e o sol e o som do mar e das gaivotas a acompanhar. Perfeitamente alheio à multidão que, por esta altura, descobre que caminhar e correr e deitar à beira mar é bom. Perfeitamente alheio a todos quantos por mim passavam, completamente mergulhado nas minhas boas memórias de pensamentos e conversas e partilhas feitas ao longo daquele lugar. O meu ritmo era o que sempre foi, ao longo do ano. Calmo, saboreando, apreciando, deixando que a cabeça andasse lá por cima enquanto o corpo desliza cá por baixo.

Tenho feito uma série de propósitos. Que sei que provavelmente darão em coisa nenhuma, como me é tão natural. Um deles é substituir a caminhada matinal pelo ginásio, logo de manhã. Não me cheira que vá acontecer. Ainda hoje, enquanto caminhava, confirmava a falta que me fazia aquele momento para que eu possa focar no que é realmente importante. Ainda hoje voltei a sintonizar, voltei a recordar, voltei a sentir aquele prazer que me alimentou todo o ano do qual dificilmente prescindirei, muito menos em nome de chegar aos cinquenta com uns quilos a menos. Cheira-me que vá preferir, de longe, a minha saúde e equilíbrio mentais e que a barriguinha vá continuar por aqui. Paciência! À medida que o tempo passa vou valorizando cada vez mais o sabor. Não é preguiça, é escolha mesmo, é perceber onde está aquilo que valorizo, onde vou buscar a qualidade de vida, onde encontro aquilo que é importante para mim.

De hoje a uma semana estaremos em Paris. Como sempre, já me sentei a preparar tudo, o que vamos visitar, quando vamos visitar, o que vamos comer e onde. Sei, no entanto, que o mais provável é que não faremos a maior parte do que programei e nos limitaremos a passear, de mão dada, pelos imensos jardins, junto ao Sena, saboreando as maravilhas envolventes com o tempo que apenas nesta altura temos. Calculo que quando chegarmos a casa os nossos filhos nos vão perguntar pelos museus e espetáculos que afinal não vimos e nos vão dizer - como sempre dizem - que desperdiçamos o Louvre e tudo aquilo que apenas Paris tem. Não percebem que podemos bem com esse desperdício. Que o que não podemos nem queremos desperdiçar é termo-nos, um ao outro, com todo o tempo do mundo.

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