Recomeçarei hoje a minha rotina. Parcialmente, apenas, mas já é muito bom. Estou mesmo a precisar!

Curiosamente, tenho pensado na minha reforma. Deve ser de não ter nada de especial para fazer, a não ser inventar coisas para fruir deste tempo de dolce fare niente. Não há correrias, não há programações, não há agenda cheia de coisas para ontem... Nunca me dei muito bem assim. Aliás, estou de férias vai par um mês, o que é francamente demasiado para os meus gostos. E a questão coloca-se: e se fosse a minha reforma? E se não fossem apenas férias, mas a reforma? Como seria eu? Como serei eu quando já não tiver nada para fazer?

Nunca deixei que o meu trabalho fosse mais que apenas um trabalho. Nunca permiti que aquilo que eu faço me definisse. Jogava à cautela, claro, porque conheço os meus limites e sempre soube que dali não viria grande coisa. Mesmo agora, em que trabalho e prazer se misturam de forma quase constante, preocupo-me em não me levar demasiado a sério naquilo que faço, que hoje é isto mas já foi tantas coisas diferentes em tantos lugares diferentes que o melhor mesmo é não criar raízes excessivas e ter sempre a mala pronta.

Um dia destes, depois de termos ido esperar os que chegaram de Timor, conversávamos acerca disso. Do meu papel na vida daqueles miúdos que passam pela minha vida. Houve um tempo em que pensei que seria decisivo, mas o tempo ensinou-me que isso não é verdade. Que não deve ser verdade. O que fazemos e vivemos e sentimos juntos será por eles associado não a mim, mas aos lugares, aos momentos, às experiências, despertando-lhes - espero eu! - aquele sabor que todos temos quando nos recordamos das coisas boas que fizemos quando éramos novos. E, francamente, isso chega-me.

Gostaria de ser recordado como um semeador. Como aquele que monda a terra, recolhe a semente - que não é sua - lança-a à terra e rega-a por algum tempo esperando que cresça, deixando que outros usufruam da beleza da terra cultivada e recolham os seus frutos. É isso mesmo que eu faço quando olho para a beleza de um campo cultivado. Não penso em quem o semeou, em quem o trabalhou e tornou aquilo possível. Quando muito, em dias bons, dou Graças pela maravilha que tenho diante dos meus olhos e pelos que tornaram aquilo possível.

E fico sossegado. Mesmo quando for reformado não faltará semente e terreno para cultivar. Não me posso é deixar ficar sentado à espera que as coisas cresçam por si só.

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