Não conheço melhor pauta para uma vida feliz que o genuíno sentimento de gratidão.

Volta e meia - particularmente quando começa a cheirar a férias e me permito dar largas ao cansaço acumulado - torno-me ainda mais rezingão. É aquela altura que me chateia profundamente, entre o está quase e o ainda não, em que a meta está já ao alcance do olhar mas ainda temos que batalhar para a alcançar. Dependendo da intimidade, quando me perguntam como estou, nessas alturas posso responder qualquer outra coisa que não o inócuo "tudo bem". Nada de mais. É como se estivesse a esfoliar a alma, a prepará-la para receber nova sementeira, novos projetos, novas formas de fazer e precisasse de deitar algo fora.

Mas basta-me parar um pouco, distanciar-me um pouco, ver as coisas um pouco mais ao de longe, sem estar nelas permanentemente mergulhado, para as reapreciar, para voltar a ver nos que me rodeiam o tanto que os torna tanto. Basta-me pegar num dos tempos em que, nesta altura, tenho mais tempo e pegar na guitarra que está no fundo da capela e com ela ao colo fazer o filme do que foi sendo o ano que agora termina - acho sempre curioso como para nós, educadores, o tempo tem um tempo diferente do tempo dos outros - e por entre orações e canções encontro-me sempre a dar Graças pelos que me rodeiam. Basta-me, como faço sempre nesta altura, organizar as minhas fotos e os meus documentos e o meu relambório das atividades e recordar momentos e pessoas e risos e batalhas ganhas e perdidas e conversas e caminhadas e conversas em caminhadas e caminhadas por entre conversas e constatar como fui crescendo, como fui sendo ajudado a crescer, por vezes forçado a crescer, para alcançar o patamar mínimo de vida dos que comigo batalharam e caminharam e conversaram e cresceram.

Ainda ontem pensava como, para o bem e para o mal, continuo a ser um puto do bairro deslumbrado com a vida que lhe vai sendo permitida viver. Para o mal porque por vezes ainda fico atado a ideias pré concebidas que permanecem lá, instintivamente, e constituem quase sempre o meu primeiro olhar sobre as coisas. Para o bem, porque, passado o estupor - que dá asas à minha rezinguice - potencia este sentimento permanente de imensa gratidão pelo caminho já percorrido e, sobretudo, pelo desejo do novo caminho a percorrer. Que apenas é possibilidade porque alicerçada naqueles que, todos os dias, me rodeiam.

Como dizia, não conheço melhor pauta para uma vida feliz.

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