Fiz-lhe o convite. Novamente. Não vi. Não precisei. Antecipara com extraordinária facilidade os seus olhos a brilhar. Há coisas que não precisamos ver. Há pessoas de quem não precisamos ver. Porque não precisamos de comprovar nada, tal é o nível de compromisso, de simbiose, de partilhada de vida vivida. E sentida. E caminhada. Enquanto se caminha. Há pessoas de quem sabemos antecipadamente, com gosto, com gozo, com a alegria que sentíamos em miúdos quando sabíamos que iríamos fazer felizes. Que iríamos ser felizes porque fazemos felizes. Quando a vida era simples, simples, tão simples que os porquês não tinham lugar nas brincadeiras, nem os comos, e muito menos os talvezes. Era o reino dos porque nãos em que fechava os olhos e saltava, inconsciente, sem medir nada nem ninguém, sem medos, sem consequências outras que não fossem as ditadas pelas horas imensas de imensa brincadeira. Desses tempos, que não foram apenas "esses tempos" mas também "outros tempos" que não foram tão bons, escolhi guardar apenas "esses tempos" e utilizá-los por vezes, com sorte, como ponto de partida para estes tempos, que são aqui e agora. A inocência e a ilusão da aventura mil vezes tentada e outras tantas cumprida, o momentâneo desespero que depois se transforma, miraculosamente, em doce e saudosa memória, o respirar da passada no frio da manhã antecipando o descanso do anoitecer, o acreditar piedosamente que depois desta não me voltarei a meter noutra e depois deixar que a saudade tome conta das decisões e ansiar pela partida. E poderia continuar, ad infinitum, porque é justamente com esse poder que me sinto quando recordo e reescrevo e revivo e antecipo o brilho do olhar e tenho a certeza que o que vai acontecer é já caminho, é já antecipação, já acontece com o convite feito. Dentro de nós.

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