Já tinha saudades! Do barulho das ondas, do cheiro salgado da manhã, do vento frio a bater, do permanente louvar a Deus pelo início de mais um dia, pela beleza que me rodeia, por ter um lugar que sinto como meu. Sou um homem de manhãs. Talvez porque seja o princípio, talvez porque nessa altura do dia tudo seja ainda planos e projecções, e perspectivas e boas intenções. Talvez porque. nessa altura do dia, não tenha ainda nada para avaliar, não tenha ainda feito o balanço do dia e por isso não tenha falhado em nada, ainda.Talvez porque deixo isso para a noite, para todas as noites, quando me coloco na balança e constato, invariavelmente, o tanto que ainda me falta!

Há estados de alma que levo tempo a processar. Muito tempo! Particularmente quando sou mexido por dentro, quando sou tocado no mais fundo do que sou, quando tenho a sorte de me sentir abençoado (abensonhado - como me ensinaram a dizer!) por quem me faz sentir amado. Por isso, também por isso, este Taizé que ainda lateja cá por dentro vai levar muito tempo a ser degustado por mim. Lentamente, enquanto caminho, vou revisitando conversas, saboreando gestos e olhares, sorrisos e lágrimas; recordo paisagens belíssimas, personagens principais no enquadramento da cumplicidade do encontro; resgato silêncios cheios de palavras e palavras recheadas de silêncios comprometidos e comprometedores, porque finalmente ousam saltar cá para fora e tornar-se vida dita, e vivida, porque partilhada!

E volto a sentir, pela enésima vez, a certeza que é na partilha profunda do que somos e temos, do que não somos e nos falta, é na partilha profunda da admissão das nossas falhas e incapacidades e medos e sofrimentos, que nos encontramos uns nos outros em Deus. E volta a ocorrer-me, pela enésima vez, que foi justamente por isso que o nosso Deus se quis partilhar connosco na pequenez, na sujeição total, na entrega total, confiante e absoluta, fazendo-se, por amor, indefeso nas nossas mãos, para que possamos, por amor, querer ser indefesos nas mãos uns dos outros. E recordo, pela enésima vez desde que saímos, os nossos gestos e olhares e sorrisos e lágrimas, e a nossa alegria calada e profunda por nos sentirmos, confiadamente, amorosamente, nas mãos uns dos outros. E redescubro, pela enésima vez, que o nosso Deus fez-se humano para nos ensinar a sermos humanos: na pequenez, na simplicidade, no (apenas) aparente nada!

E sorrio! De tal forma que alguém que passa por mim nesta manhã gelada me olha de soslaio! Mas sorrio! Porque sinto que tudo isto é, apenas, o princípio.

Deus seja louvado!

Comentários

Mensagens populares deste blogue