Um dos meus maiores defeitos é a minha falta de pachorra para choradinhos. Não posso com o discurso do coitadinho, sobretudo quando tem como base a comparação com outros que vivem realidades distintas e ainda mais sobretudo quando passam por cima das suas próprias realidades.
Numa destas últimas semanas, num dos dias de reflexão, um aluno veio-me com um choradinho qualquer que me fez logo torrar a paciência. Disse-lhe logo para ir comigo 15 dias a Ramalde que aquilo passava-lhe. Curiosamente, uns dias depois, foi um dos miúdos de Ramalde que se tentou justificar com as suas circunstâncias. Disse-lhe para olhar para o outro lado da avenida, mesmo em frente ao nosso Espaço, e comparar a sua situação com a de quem já não estava lá porque dias antes houvera uma rusga policial que prendeu meia dúzia de colegas dele. Na semana passada sentei-me com o meu mais novo e disse-lhe justamente isso, que não viesse com choradinhos porque ele tem todas as condições para ser o que quiser ser desde que tenha a coragem e o compromisso suficientes para se fazer à vida. E que a autonomia que ele reivindica cada vez mais traz apegada a si a responsabilidade e a cada vez maior dificuldade em se justificar quando as coisas não correm bem. Ontem foi a minha filha, hoje foi...

O que eu vivi deu-me, naturalmente, muito e tirou-me outro tanto. Tal como disse a uma turma na passada sexta feira, não compro estas coisas dos choradinhos. Na altura falava-lhes do Gusto e de tudo o que fizemos juntos e das coisas que não fizemos juntos, fruto das escolhas dele que o conduziram à morte prematura. Eu acredito muito que, tendo as circunstâncias um peso importante nas nossas vidas, não são no entanto decisivas, que a última palavra é nossa, a última decisão é nossa, particularmente se tivermos a sorte de ter ao nosso lado quem conheça o caminho e nos ame o suficiente para nos alertar e dar na cabeça as vezes suficientes e necessárias até atinarmos. São incontáveis as vezes que eu levei e continuo a levar na cabeça e ainda assim, por vezes, continuo a persistir na asneira. Mas assumo que a responsabilidade de viver com as consequências dos meus atos  é minha e não peço - e muito menos exijo - seja a quem for que seja condescendente. E são-no, muitas vezes, e quando isso acontece fico grato porque me é dado de borla.

Ainda ontem disse: se soubesses como perdes sempre que fazes o choradinho!

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