Hoje voltei à minha caminhada matinal. Sozinho, sem música, sem rádio, sem outra coisa que não o amanhecer gelado, o sol que desponta e embeleza o já belo mar, o choro das gaivotas e a suave companhia do barulho das ondas a embater nas rochas. As condições ideais para começar uma semana que, como as antecedentes, se apresenta com um ritmo complicado. No meu espírito, Taizé já tomou as rédeas do futuro. Enquanto caminho não estou já na Foz mas lá, com aqueles com quem gosto de estar nestas coisas, partilhando o que adoro partilhar nestas alturas, vivendo o que recordo mais tarde ter vivido tão intensamente na serenidade do encontro. Por fora digo-me que não sei ainda se vou, cá por dentro rezo a todos os santinhos para que não consiga encontrar desculpas para não ir. Não preciso delas, em boa verdade. Taizé é o meu lugar e voltarei a ele sempre que proporcionar. Mas nesta altura não sei se é o melhor para aqueles que comigo vivem, e essa é sempre uma decisão dolorosa. No entanto, como estou a preparar tudo para Taizé, a minha ida ou não é irrelevante para que me deixe habitar por dentro. Como muitas vezes me acontece, à medida eu caminho construo cenários, articulo discursos, encontro alternativas para caminhos que sei provavelmente nunca serão percorridos. Imagino encontros e conversas, luares e terraços que apenas existem noutros hemisférios, e momentos que, de tão intensos, se tornam quase irreais. Mas que são meus, inteiramente meus, como se corpo e alma pudessem ser independentes e terem, ambos, vidas autónomas. Desde quem me recordo que vivo noutro mundo com os olhos abertos, como se o sonho se impusesse à realidade, ao ponto de como que acordar de repente e ficar mais surpreendido com o lugar onde verdadeiramente me encontro que com aquele em que me encontrava. A realidade nestas alturas torna-se um pouco difusa e dificulta-me a memória: estive lá, realmente, ou imaginei-me lá? Isto aconteceu fora de mim ou existe apenas na correspondência dos meus anseios? O curioso é que, à medida que o meu tempo avança, à medida que a idade me sobrecarrega os ossos, aumenta a minha convicção que ainda me falta muito para viver. Como o irei viver, não sei. Se com o corpo, se com a alma, se com ambos, em simultâneo, em cordialidade, em consonância, não sei. E não é importante. Sempre tive a convicção que a distinção entre fantasia e realidade é sobrevalorizada.

Comentários

Mensagens populares deste blogue