Acabei de receber a notícia que uma amiga está grávida. E não o queria. De todo! E o marido também não. De todo! E disse-lhe que a culpa era dela. Como se, em tudo o que acontece numa relação, a culpa pudesse ser apenas de um só. Estúpido! Não há outra palavra. Estúpido! Ela, que tem uma idade em que ter um bebé já acarreta riscos superiores ao normal, teve que ir fazer a amniocentese sozinha. Estúpido! E parece que as coisas não correram muito bem. Estúpido! é a prova provada que o tremendo sucesso profissional, o desafogo financeiro, a inteligência operativa, pode acontecer mesmo entre a mais estúpida das pessoas.
Estou mesmo irritado. Não entendo como é que alguém pode ser tamanha bota da tropa. Ainda por cima quando tem uma boa casa, uma boa profissão, condições de vida muito acima da maioria de nós e no entanto consegue ter uma atitude deste tipo que, aliás, soma a muitas outras que vai tendo. Não entendo como não se consegue dar graças por uma nova vida, qualquer que seja a circunstância em que ela aparece.
Sempre que esperávamos um filho havia festa lá em casa: chamava os meus pais, os meu sogros, os meus amigos e brindávamos todos juntos, escolhendo a alegria, a confiança, a fé, a certeza que o mais importante era quem vinha. E não permitia sequer que questionassem a oportunidade, as condições de vida, o dinheiro, o trabalho, a imensidão de desculpas que é moda apresentar-se para se justificar o injustificável. E sempre disse aos meus filhos e filhas que, solteiros ou casados, se chegassem lá em casa com uma notícia dessas, faríamos a festa juntos, ainda que algumas pessoas engolissem em seco. Nestas alturas não tenho qualquer dúvida ou hesitação: um bebé é sempre uma boa notícia. Ponto final.
Quando nos casamos uma amiga deu-me um dos presentes mais simples mas mais significativos que já recebi, e que continua lá em casa, ao contrário de outras coisas. Era uma pedra pequenina, pintada à mão, onde se lia: "não pode haver tristeza quando nasce a vida." Assim. Simples. Sem luzinhas a acender e a apagar, sem grandes desenhos. Simples. E sempre esteve muito presente no nosso casamento. Apetecia-me mandá-la à cabeça de alguém que conheço. Se não gostasse tanto dela! Estúpido!

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