Estamos aqui
hoje, todos engalanados, porque, há mais dois mil anos atrás Deus, quis, mais
uma vez, vir ao nosso encontro. Esse Deus, omnipotente que poderia ter
escolhido qualquer outra forma de transformar o mundo, decidiu nascer no meio de
nós, fazer-se menino, pobre entre os pobres, desprotegido entre os
desprotegidos, amparado apenas por aqueles que o amavam contra tudo e contra
todos. Porque seria? Porque é que, de entre todas as possibilidades que o seu
poder lhe permitia, deus decidiu justamente fazer-se um de nós para vir ao
nosso encontro? Se fossemos nós, provavelmente teríamos permanecido sentados no
sofá, na nossa zona do conforto, como agora está na moda dizer-se, e, a partir
do nosso conforto, teríamos debitado meia dúzia de opiniões, teríamos enchido o
mundo de pretensas verdades, teríamos julgado cada um dos que não pensava como
nós, dito que o melhor era fazer isto, ou aquilo … e, naturalmente, porque não teríamos
metido as mãos na massa, nada de especial teria acontecido
Se Deus não tivesse escolhido
nascer menino que depois, tal como todos nós, cresceu e se fez adulto, a Samaritana
nunca teria saciado a sua sede, Zaqueu nunca teria subido á árvore e a mulher
pecadora teria morrido, como tantas outras mulheres, soterrada sob as pedras
lançadas por uma multidão sem consciência dos seus próprios erros. Se Deus não
tivesse escolhido vir ao nosso encontro, nem sequer nós próprios estaríamos
aqui, esta noite, todo engalanados. Até poderíamos, por qualquer disposição
universal, estar juntos, mas não estaríamos certamente a celebrar o amor, a
entrega, o viver para os outros, porque tudo isso (re)descobrimos a partir
daquele menino. Se Deus não tivesse escolhido vir ao nosso encontro nós
próprios não saberíamos ir ao encontro daqueles que temos diante de nós, todos
os dias, sejam eles da Foz, de Ramalde, ou dormitem nas ruas escuras da noite
portuense.
É Deus quem nos diz que temos que
ir ao encontro. E como fazemos isso? Fazendo justamente o que Deus fez:
tornando-nos próximos e por isso, este é um lema muito feliz. Partir ao
encontro do outro, ver nele a fragilidade de um menino que acaba de nascer,
encher-se de deslumbramento e compaixão, é um desafio para cada um de nós. O
Espaço RAIZ, com todas as suas valências, é já uma resposta nossa - a possível nesta
altura - a este desafio que nos é lançado por Deus. E este é um desafio que
exige persistência, temperança e caridade, que, na linguagem de Deus, se traduz
por Amor. Nesse Espaço, que é já uma segunda casa para muitos daqueles que a
escolhem, em vez de outros lugares no Bairro, as nossas crianças, jovens e
velhinhos são desafiados a ir mais longe, a perceber que há mais vida para além
daquela que os circunda no Bairro, que estudar vale a pena, que trabalhar vale
a pena, que manter o seu espaço limpo e ordenado vale a pena, que dizer “por
favor” e “obrigado” vale a pena, que, apesar dos desgaste provocado pelos anos
vividos, vale a pena viver a vida no seu pleno, já a passando a acreditar que
com o seu esforço e empenho poderão conquistar um lugar diferente no mundo, em
vez de ficarem à espera que o futuro se transforme num presente envenenado.
O Espaço RAIZ é feito de
encontros. Encontros de sonhos, encontros de projetos, encontros de pessoas que
precisam de apoio e outras que se querem dar e que em conjunto, descobrem que
afinal, não são assim tão diferentes nos seus anseios mais profundos, na sua
busca de felicidade, pois todos tentamos, por entre os acontecimentos da nossa
vida, a forma mais ou menos eficaz, de sermos felizes. O espaço Raiz foi
sonhado para que possa ser um espaço que possa potenciar uma transformação
estruturante na vida dos que o frequentam de forma. Sinto que ela está a
acontecer. Tenhamos nós a capacidade de,
seguindo o exemplo do menino do presépio, nos fazermos presentes junto dos que
são o seu rosto.
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