Adoro quando um filme ou um livro anda a vaguear cá por dentro. Vou relembrando determinadas passagens, questionando-as e questionando-me, confrontando-as e confrontando-me, pondo-me à prova. Ainda ontem, quando conversava com o meumaisnovo acerca de um livro que ele leu - creio que, porque também anda a navegar lá por dentro, foi o primeiro que ele leu verdadeiramente - falávamos de como é importante deixar que as nossas experiências nos habitem e deixarmos que elas nos vão moldando. Ler ou ver sem permitir sentir é puro desperdício e, pior, conduz a viver sem sentir e isso sim, é uma vida de puro desperdício.
Walter Mitty é o meu mais recente habitante. E o curioso é que porque, por motivo de trabalho, tive que comparar o meu olhar sobre o filme com outro olhar e apercebi-me que o que víramos, em muitos aspetos, não era coincidente. Acho fantástica a forma como cada um de nós tem a capacidade de extrair das experiências aquilo que mais falta lhe faz para se ir completando aos bocadinhos.
Na semana passa fui a um templo hindu. É sempre um desafio fascinante deparar-me com aquela quantidade de divindades, com aquelas cabeças de elefante e de macaco, com aquelas estátuas com seis e oito braços. No final, um bom amigo que também acompanhou a visita mas não é nada destas coisas da fé, perguntou-me como é possível que  alguém, em pleno século XXI, possa entrar naquele templo e não se rir do ridículo daquelas imagens e daquelas estátuas. Eu ri-me e disse-lhe que o bom disto tudo é que no dia anterior tínhamos estado no Museu da Eletricidade e ele parecia um puto numa loja de brinquedos quando teve oportunidade de interagir com as coisas da física. O que o fascina não é o que me fascina mas somos ambos mais ricos porque nos respeitamos e admiramos o suficiente para partilharmos as nossas próprias experiências sem nos rirmos um do outro.

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