Não é mesmo possível servir a dois senhores.

Uma das maiores questões da minha vida é a minha dificuldade em estar. Eu, que gosto tanto de estar, que faço tanta questão de estar, desespero quando não consigo estar como queria, com todos quantos queria, e, principalmente, com quem esperaria que eu estivesse. Por causa disso tenho muitos amargos de boca, sinto-me muitas vezes culpado por não conseguir cumprir com quem sinto que me comprometi.

Na minha vida, volta e meia tenho que parar e forçar-me a recordar da hierarquia das pessoas com quem me comprometo. Recordar-me para quem sou verdadeiramente fundamental, quem depende de mim, tentar discernir se estou a conseguir ser qualquer coisa de jeito como pai, como marido, como amigo ou confidente, se estou a conseguir ser esteio de coisa alguma, como é suposto ser. 

Nessas alturas lembro-me invariavelmente do meu pai, que os meus amigos invariavelmente admiraram e admiram pela sua disponibilidade, abertura e eterna juventude. Lembro-me que muitas vezes eu tinha dificuldade em reconhecer a pessoa de quem eles tanto falavam, e que me parecia ter tão pouco a ver com aquele homem que, para mim, era apenas o meu pai. 

Houve um tempo na minha vida em que pensei ser padre. Depois descobri que queria muito mais ser pai e marido e ter uma esposa que amasse todos os dias e ter uma família da qual me orgulhasse todos os dias e ser feliz para sempre. Apesar de ter conseguido essas coisas todas, volta e meia descubro-me dividido entre a disponibilidade para os meus e a disponibilidade para os outros. quando me volto para uns os outros queixam-se sempre e eu tenho que fazer este exercício de corda bamba, quase sempre sem sucesso. Então respiro fundo, tento serenar-me, baixar as minhas expectativas, e voltar a calçar os meus tamanquinhos: afinal, não consigo servir a dois senhores, não consigo ser tudo em todos. 

Resta-me tentar ser algo em alguns.

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