Detesto quando tenho que vestir um fato que não sinto como meu. Mas por vezes tem que ser. Principalmente no meu papel de pai.

Considero que saber é absolutamente fundamental. Porque me permite situar-me no mundo que me rodeia, porque me liberta, porque me dá o poder de discernir o certo e o errado, porque me dá as armas para decidir o melhor em cada momento, porque evita que seja um boneco em mão alheias, porque me capacita para ajudar a construir um mundo melhor. Um dos momentos mais marcantes da minha vida foi quando descobri, já quase adulto, que havia pessoas que trabalhavam para pagar a faculdade. Toda a vida me tinha sido dito que a faculdade era para meninos bem, para ricos, e eu, que a partir de determinada altura descobrira um imenso gosto pelo saber, senti-me roubado na minha possibilidade de futuro. Lembro-me que pensei "assim também eu!", um desabafo que hoje me acompanha muitos dias no Centro Comunitário.

No entanto, se tenho o saber como absolutamente fundamental, o canudo a mim não me diz absolutamente nada. A tal ponto que fiz os cinco anos da faculdade com um imenso gozo e agora peno com os dois passos finais porque não acredito que acrescentem nada ao meu saber. E se faço questão de acabar nem sequer é por mim mas pelos meus filhos e pela minha mais-que-tudo, que fizeram sacrifícios para que eu pudesse estudar o que gosto.

Por isso entendo tão bem o meu mais novo: um puto imensamente feliz, com um sorriso enorme, mas que não tem o killer instinct que os irmãos têm em matéria de escola. Se se preocupa com as notas não é porque lhes dê importância em si mas pelo que sabe que os resultados menos bons provocam em nós (muito mais na mãe e nos irmãos que em mim). Por isso estuda com um motor fora de borda, o que faz toda a diferença. Eu finjo-me muito preocupado, visto o fato de pai, dou uns ralhetes, sento-me a estudar com ele e tento - aí sim, cm o meu próprio fato - fazê-lo sentir a importância do saber e de conseguir transmitir aos outros o conhecimento. "Não estudas para fazer testes, estudas para saber e as notas dos testes resultam do que sabes."

O que me vale é que sei que muito do que se vai construindo na minha relação com os meus filhos resulta justamente destes momentos aparentemente inofensivos. Passito aqui, calcadela acolá, empurradela mais adiante, e vamos construindo um mundo apenas nosso que nos permite estabelecer pontos de comunicação que, mais tarde - sei-o por experiência com os outros filhos - são preciosíssimos para continuarmos a caminhar juntos.

E isso é o que importa.

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