20130723
Há uns anos descobri que há em mim um lado de advogado do diabo que me passara despercebido. Numa qualquer discussão, quando as opiniões tendem todas para um lado desconfio sempre. E descubro-me a procurar razões para que as coisas não sejam bem assim. Muitas vezes acabo até por não conseguir deixar de apresentar essas razões, mesmo contrariando o que defendera momentos antes. Confuso? Claro que sim. Se para mim o é, imagino para os outros.
E sou assim em tudo!
Aqui há uns tempos, depois de mais um titulo, cometi a estupidez de dizer em voz alta que tinha saudades do Porto quando o Porto não ganhava nada. Éramos poucos os indefectíveis, orgulhosos por pertencer a um clube que sentia na pele e no campo o contra tudo e contra todos, que na altura nada tinha de artificial. Da mesma forma, sempre preferi as segundas cidades dos países e os clubes dessas cidades, que têm que lutar contra o natural poderio da capital. Mesmo a nível partidário, tenho sempre vontade de aderir formalmente ao meu partido de sempre quando vejo a meia dúzia de gatos pingados que aparecem depois de uma estrondosa derrota. Sinto sempre que é junto deles que gostaria de estar e não na palmadinha nas costas.
Talvez por causa desta minha estranha tendência, fez-me muita confusão ver ontem o Papa rodeado por tanta loucura! Pensei logo como estas coisas nunca são lineares, nunca possibilitam apenas uma leitura, que nada é, em si, completamente bom ou completamente mau. A loucura colectiva tem uma linha muito ténue que separa o que é do que deve ser. Por isso, faz-me muita confusão o endeusamento que começa a haver em torno do Papa Francisco. Imagino-me na pele dele e a claustrofobia que sentiria, a falta de espaço, a falta de serenidade, o desconforto de ser colocado num pedestal por milhões de pessoas. A ele, que tanto apela aos pés assentes na terra e que, paradoxalmente, se vê elevado justamente por defender os pés assentes na terra.
Há muito de irracional - e eu, com a idade, começo a fugir do irracional - nestas manifestações de fé, ou de fezada, que me lembram sempre, sempre, a forma como Jesus foi acolhido em Jerusalém. E desta vez nem sequer faltou o jumento, que, nestes nossos dias, corresponderá ao carro familiar que transportou o Papa Francisco.
Como sempre me acontece nestas manifestações de massas apanho-me a interrogar-me: Quantas destas gargantas que gritam hossanas ficariam junto à cruz?
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