Trabalhar neste novo projecto tem sido, a todos os títulos, um verdadeiro desafio. Lembro-me muitas vezes do que um amigo me contava que lhe tinham dito na sua experiência de missão no Brasil: "Pobreza cansa". Não tem sido fácil para nenhum de nós passar os dias a saltar entre dois mundos completamente distintos. Passamos parte do nosso quotidiano num mundo de primeira, com ar condicionado, com condições de trabalho absolutamente exemplares, quer em termos físicos quer psicológicos: excelentes pessoas, excelentes companheiros, excelentes alunos que todos os dias nos colocam desafios que nos elevam ao melhor do que temos e somos para dar. Depois, a meio do dia, mudamos completamente de cenário: condições físicas que "até não são más", salas geladas e com correntes de ar, pessoas para quem o mínimo a exigir já é demais para o que estão habituados a dar. São dois mundos completamente distintos que, apesar de distarem entre si algumas centenas de metros, não convivem naturalmente, não se interligam naturalmente, e mesmo quando o fazem é notória a estranheza mútua.
Dou muitas vezes comigo a pensar que não quero  absolutamente desligar-me do primeiro mundo. Nem sequer é porque estranhe o segundo - revisito-me sempre quando lá estou - mas temo muito esquecer-me daquilo é é exigível, daquilo que é possível, e acomodar-me aos mínimos, tal como eles, e baixar as minhas expectativas, baixar as minhas exigências e pensar, como muita boa gente que conheço, que "até nem é mau". É espantoso - e chocante - como aquilo que consideramos absolutamente imprescindível para nós - o conforto, a qualidade das instalações, o aquecimento, o nível do ensino - se torna absolutamente secundário quando se trata dos outros. Perder o contacto com o que deve ser servirá apenas para me acomodar. E isso não seria bom para ninguém.
É, amigo, pobreza cansa mesmo!

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