Para mim, a Casa do Pai também tem muitas moradas. Encontro-O muitas vezes, em muitas situações, e aprendi já a não desdenhar cada local, cada pessoa, cada situação, como descobertas de caminhos para que esse encontro profundo aconteça. Há, no entanto, lugares especiais, que nos tornam igualmente especiais.

Tive a sorte de regressar àquela que é, para mim, uma das Moradas Permanentes do Pai: Taizé. Foi muito interessante apreciar como evoluí a todos os níveis, desde a minha primeira vez. Recordo-me que nesse ano caí absolutamente de queixos, num encontro comigo próprio que vinha sendo adiado há demasiados anos. Deparei-me comigo, com o meu silêncio, com a minha solidão (que me era auto-imposta) quase insuportável, mas, sobretudo, deparei-me pela primeira vez com um Pai que nunca me perguntou porque levara tanto tempo a chegar até Ele. E que nunca me recriminou por isso. Um encontro tão decisivo na minha vida que nunca senti necessidade de reatar laços. Agora, volto a Taizé não com o desespero do Filho Pródigo "Pai, já não sou digno de ser chamado Teu filho." mas com a confiança do bom ladrão "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso".

Taizé é também importante para me nivelar, para me recolocar no lugar a que pertenço. Eu não acredito em coincidências, que tento ler como toques de Deus, como oportunidades que Ele me dá para aprender com o que me vai acontecendo. Foi por isso muito bom ver como eu próprio fui sendo desmontado naquilo em que, demasiadas vezes, esqueço ser muitíssimo pouco consistente. Ter o privilégio de testemunhar alguém possuidor de uma construção teológica com uma solidez que me é perfeitamente inatingível, como o Pedro; ter a tremenda sorte de poder partilhar inseguranças, duvidas e receios com quem sabe verdadeiramente escutar e processar o que escuta como a Isabel e a Elisabete; criaram o clima propício para que eu pudesse tomar o meu tão fundamental quanto premente banho de humildade.

O meu encontro comigo, o meu confronto com o espelho, que naquele primeiro ano tivera sido despoletado pelo Pai, foi agora tornado possível por aqueles que, mesmo sem terem disso consciência, carregavam os toques de Deus que me permitiram voltar a poisar os calcanhares no chão.

E poder, assim, retomar a minha caminhada.

Afinal, ninguém chega longe a caminhar em bicos de pés.

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