Apesar de, como todos nós, os utilizar com alguma frequência, não sou adepto de chavões. São mais uma forma de etiquetarmos as coisas, de as rotularmos e, justamente como as etiquetas e os rótulos, os chavões poderão ser, quando muito, pontos de partida, mas nunca caminho a ser percorrido. E muito menos pontos de chegada.

Um dos sentimentos mais escutados da boca daqueles que todos os anos voltam a Taizé é o de medo: no primeiro ano foi sempre tão bom, tão especial, tão único, que o regresso apenas pode originar frustração das expectativas. Quando lá estão, no entanto, invariavelmente se apercebem que não faz sentido compararmos situações e experiências que não são, de todo, comparáveis. Porque as nossas próprias circunstâncias são outras, porque  a nossa disponibilidade é outra, porque até aqueles que nos acompanham são outros... porque, no fim de contas, apenas Taizé se mantém, lá, à nossa espera, quase imutável, ao fim de todos estes anos.

Taizé é, também por isso, importante para mim. É como se fosse um Porto Seguro, o meu Porto Seguro, onde, volta e meia, atraco o meu barco, recolho as velas sujas e gastas, e me detenho a remendá-las, com toda a calma do mundo, com todo o tempo do mundo (e como o tempo é diferente, em Taizé!) confiante que o Pai tratará de amainar a tempestade que, lá fora, continua.

Sei sempre, no entanto, que haverá um tempo para partir, que o meu barco não foi feito para ficar atracado porque encontra a sua razão de ser no mar alto. As conversas que tivemos, as nossas caminhadas, as nossas partilhas e silêncios, os encontros dos nossos olhares (que se tornaram cúmplices), as vezes que conseguimos desligar a cabeça do coração e permitimos que este corresse, finalmente livre, ao encontro do outro, são por isso mantimentos que guardo cuidadosamente, deliciosamente, religiosamente! Sei que a eles irei recorrer sempre que o luar me faltar e a solidão da noite escura bater à minha porta, ou o vento gelado do norte romper uma das minhas velas e eu já não conseguir remar.

Sim, porque a minha barca desafia todas as leis da física: quanto mais pessoas carrega, mais leve se torna a viagem.

Comentários

Mensagens populares deste blogue