Não cresci propriamente sem eira em beira. Ou sem raízes. Mas às vezes penso que não andei longe disso. Não tenho memória de alguma vez me terem sido pedidas responsabilidades quando era miúdo, de me terem dado na cabeça ou de ter cometido asneira da grossa. A imagem que me ficou desse tempo foi a de constantes mudanças até aos 9, 10 anos com a consequente necessidade adaptação - sempre dificultada pela gaguez - e, sobretudo, de uma enorme solidão. Quando olho para trás é fundamentalmente isso que consigo ver: uma enorme solidão. É curioso, porque não sou filho único - e adoro os meus irmãos, com quem sempre me dei às mil maravilhas - nem sequer sou pouco sociável. Tive muitos amigos - os "melhores amigos" da infância não foram muitos mas foram bons - brincava muito, tinha muitas aventuras daquelas de sair de casa de manhãzinha e apenas voltar para almoçar ou então à noitinha, num tempo em que as férias eram mesmo grandes, e sempre gostei de rir e brincar.

No entanto...

Ainda hoje, com uma família grande que adoro, em função da qual vivo e até respiro, passo por alguns momentos de enorme solidão. Posso até estar rodeado de amigos - e eu estou sempre rodeado de amigos - posso até estar em casa com o maralhal todo, mas volta e meia pinta um solidão incrível, inexplicável, ofensiva até, porque tenho tudo o que de fundamental a vida deve ter. Não acontece muitas vezes, nunca é por muito tempo, mas incomoda-me sempre. E acontece normalmente nestas alturas do Natal e da Páscoa, ou então em Agosto, talvez porque nestas alturas entro um bocado em descompressão e tenho tempo para pensar aquilo em que normalmente não tenho tempo para pensar.

Agora algo que não tem nada a ver: comecei este texto para referir a minha proverbial dificuldade em enviar Boas Festas  ou Parabéns seja a quem for - atenuada agora pelo Facebook, que que uso quase só para isso - e acabei por ir numa direcção completamente diferente. Acontece-me quase sempre. Ainda bem. Detestaria ter que pensar a sério no que aqui vou escrevendo. Por isso relembro a quem me lê que nada disto é para ser levado a sério.

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