Durante a formação que nos tem preparado para Moçambique, a determinada altura, perguntavam qual a nossa motivação que nos levou a participar nesse projecto. Tínhamos acabado de falar dos nossos medos - e esses para mim são claros: saudade, saudade, saudade - mas nas motivações empanquei. Ainda hoje não consigo dizer com clareza o que me leva a participar nestas coisas.

Eu adoro estar em casa, no meu canto, sem fazer nada, ou alapado no sofá a vegetar. Adoro o meu sossego, uma boa música, um bom livro, uma boa conversa. Adoro quando estamos todos em casa a ver um filme ou a cantar ou então quando saímos todos juntos na galhofa. Adoro um fim-de-semana ou um jantar a dois com a minha mais-que-tudo e a nossa capacidade de envolvência mútua que transforma uma tasca num 5 estrelas. Todo eu sou, verdadeiramente, voltado para a vida familiar.

Excepto...

Vibro mesmo com estas coisas da malta nova. A sério. Basta que alguém me conte que está a pensar em fazer uma caminhada, um retiro, um qualquer passeio onde se canta, se reza e haja alegria, que eu mordo-me todo. Começo logo a pensar no que faria, no que cantaria, nas pessoas que vão e que eu gostaria de conhecer melhor, na partilha, naquela paz da oração e do recolhimento... e quando dou por mim já mergulhei de cabeça.

A minha mais-que-tudo não acha piada nenhuma a isto tudo. Alguns dos meus filhos também não, por acaso. Entendem que passo demasiado tempo fora de casa, com os outros, e que lhes roubo esse tempo. Por vezes tento explicar-lhes que as duas coisas não são incompatíveis, que o tempo que passamos juntos é de qualidade, que estão sempre comigo, e que seu for um pai feliz somos todos mais felizes.

Quando estou mais só e penso a sério nestas coisas - o que acontece sempre que se aproximam as partidas, como agora - sinto claramente que estou a dar resposta à minha vocação, que é a minha forma de rentabilizar os meus dons, de me colocar, nos outros, ao serviço do Deus que amo. Sei, contudo, que esta justificação quase nunca é suficiente para aqueles que me querem junto deles. Que precisam que eu esteja junto deles.

Percebe-se melhor porque eu não sou adepto do casamento dos padres. Quem sofria era a família.
E o resto é história.

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