Até há bem pouco tempo, o meu maior sonho era poder recomeçar. Sempre! Infinitamente! Passava a minha vida à procura, não do que não tinha, mas do que não era: um homem impecável, sábio, muito responsável, muito querido por todos, muito conceituado, que deixasse uma marca de amizade, de bondade, por quem passasse.

Ultimamente não tenho sentido essa necessidade. Não porque entenda que tenha atingido a perfeição, nada disso, mas provavelmente porque vou convivendo melhor com a minha realidade. E, se calhar, até me sinto mais perto do que posso ser. Simplesmente adoro a minha mulher e os meus filhos, que são tudo para mim. Adoro (literalmente) o meu Deus com quem me relaciono a cada momento e por quem professo uma religião com a qual, à medida que me vou percebendo que também ela é pecadora, me identifico cada vez mais. Todos os dias sinto um enorme prazer me me levantar para vir trabalhar porque tenho a tremenda sorte de lidar todos os dias com miúdos e graúdos que são muito mais do que eu alguma vez poderei ser e, por isso, aprendo todos os dias. Quase todos os dias estudo, quase todos os dias me deito com a sensação de dever cumprido, apesar de passar quase todos os dias a fazer o pino numa correria para não deixar ninguém ficar mal.

Se me falta alguma coisa? Claro que sim. Quase todos os dias falta-me um pouco mais de paz, de silêncio, de recolhimento. Falta-me sempre algum dinheiro que me permitisse - e aos meus - encarar a vida mais desafogadamente. Falta-me sempre um pouco mais de concentração e de capacidade de trabalho que me permitisse chegar ao fim de cada dia e sentir que fiz tudo o que tinha a fazer. Mas nada do que me falta me faz realmente falta. São coisas que eu gostaria de ter mas que levam a desejar chegar um pouco mais longe a cada dia.

Curioso! Não há muitas vezes em que sinta assim. Realmente assim.
Estou a ficar velhote.
Deus seu louvado!

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