Não fiz as malas, ainda. Nem era preciso. Umas calças de ganga, roupa interior, um calçado extra, umas camisolas quentes e toca a andar.
Essa é apenas uma das coisas boas de Taizé: apresento-me tal como sou, inteirinho da silva, com os meus medos, as minhas dúvidas, as minhas pequenas conquistas e glórias, as minhas enormes e estrondosas derrotas. Apresento-me assim, como Egas Moniz, com a corda ao pescoço, despojado de tudo o que tenho para poder dar lugar ao pouco que sou. Ou ao que Deus quer que eu seja.

Taizé é o meu ponto de encontro (há pouco tempo alguém lhe chamou o spa da alma) com os outros e com Deus a partir de mim, ou comigo e com os outros a partir de Deus, pois tudo acontece ao mesmo tempo, num enorme turbilhão de interioridade que, paradoxalmente, é sereno como um enorme lago sem brisa. Tudo em Taizé é paradoxal: duas mil pessoas e não há confusão, dois mil jovens e silêncio profundo, duas mil pessoas para comer e dois mil voluntários para ajudar, escasso ritual e duas mil pessoas a rezar... tudo é paradoxal,tudo é feito para que o mais simples possa chegar ao mais fundo, à imagem de Jesus.

A perspectiva de Taizé deixa-me assim, de peito cheio, feliz da vida, encantado, como me sentia em miúdo uns dias antes do Natal: "nunca mais chega!!!". Resta-me agora atirar qualquer coisa para a mala, desapertar o nó do coração (que fica pequenino, pequenino, sempre que me despeço da Isabel e dos meus filhos), agarrar na viola, e ala que se faz tarde.

Deus seja louvado!

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