No livro, fala várias vezes do rosário que fez e usava no pulso, das orações. Como conseguiu nunca perder a fé?
Não podia perdê-la. Mas na selva confrontei-me com essa fé e pensei: eu creio ou não? A fé é real e honesta ou um instrumento psicológico? Essas questões foram muito profundas. Tive a sorte de ter comigo a Bíblia. Fora do cativeiro já a tinha tentado ler mas adormecia sempre, era um óptimo soporífero. Lia três páginas e pronto, porque aquilo é muito aborrecido... mas o cativeiro é muito mais aborrecido por isso lia a Bíblia porque não tinha mais nada que fazer. E gostei muito do Deus que lá encontrei.

Nunca questionou "se Deus realmente existe como é possível isto acontecer?"
Claro! Mas essa não é a pergunta que temos de fazer, a pergunta é: como posso eu sair daqui e enfrentar isto que me aconteceu? A relação com Deus muda. Achamos que Ele faz connosco o que quer, como se fôssemos marionetas. Mas não. Deus criou o mundo com liberdade para todos, para fazermos o que quisermos. A liberdade, é esse o tema central. E pensei "isto que eu estou a viver é também fruto da minha liberdade e das minhas decisões". 

http://www.ionline.pt/conteudo/107899-ingrid-betancourt-escrever-permitiu-aceitar-me-e-perdoar-me

Fez-me pensar, esta entrevista a Ingrid Betancourt. Nunca sabemos o que a vida nos reserva, aquilo que nos espera, e por vezes - muitas vezes! - apenas encontramos uma verdadeira razão para o que fazemos muito tempo depois de o termos feito. 


A minha vida é o exemplo perfeito disso. 
Durante anos li, reli, voltei a ler. Estudei de tudo mesmo sem o fazer sistematicamente. Apaixonei-me pela leitura, pela fé, pelas pessoas. Passei fins-de-semana inteiros em retiros, em formações, em estudos. Quando me perguntavam o que faria daquilo tudo (quando vinha de uma retiro da catequese, a minha avó dizia-me sempre com aquele olhar maroto: "devem-te pagar muito bem.") eu não sabia responder mas, porque me sentia bem, isso bastava-me. Hoje, sem que nada previamente o indicasse, tenho um trabalho de sonho que me permite conjugar todas as minhas paixões: fé, livros e pessoas. 
Excelentes pessoas. 


Para que serviu aquilo tudo antes de aqui chegar? Justamente para aqui chegar. 


A mim basta-me.



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