Primeira lapalissada: a dor dói. Não há dor que não doa. Não há dor que provoque alegria, ou risos, muito menos gargalhadas. Não há dor que seja felicidade, ou agradável, nem sequer bem disposta. Por isso não a procuramos, por isso a evitamos, tentamos fugir dela a sete pés. Segunda lapalissada: não adianta fugir. Não adianta escondermo-nos da dor, esconde-la de nós próprios, fazermos de conta que não existe, imaginarmos uma qualquer outra realidade onde ela não esteja. Quando a dor vem, faz-se sentir. Muitas vezes sem se fazer anunciar, sem avisos prévios, sem preparação, sem conjecturas. Quando chega, é. E quase sempre é, impedindo que qualquer outra coisa seja. Quando dói, e dói mesmo, dói que se farta. Por isso, o melhor mesmo é acolhe-la. Sem reservas nem pudor. É para sofrer? Sofre-se. É para chorar? Chora-se. É para rasgar vestes? Rasga-se. Terceira lapalissada: a vida não é dor. Não é para ficar por aí. Então, acolhe-se a dor, vive-se o momento, mas avança-se. Lentamente, se possível com a ajuda de alguém - é fundamental deixarmos-nos ajudar - vai-se colocando os pés no chão e parte-se dai: da realidade, por muito nua que seja, por muito crua que seja, por muito dolorosa que seja. Quarta lapalissada: a dor não se esquece. Quando a coisa corre bem, identifica-se a sua origem, cataloga-se, arquiva-se, sabendo que na fragilidade ela se encarrega de aparecer. Com intensidades variáveis, mas está sempre lá. Fica sempre lá. Se tiver sido corretamente identificada, devidamente catalogada, vale pelo que é: aquela dor. Não cresce em nós, não provoca angústias, medos das possibilidades do futuro: é aquela, tem nome próprio, tem lugar próprio, tem circunstâncias próprias e, ainda que tudo se conjugue para que se volte a manifestar, já a conhecemos. E porque a conhecemos já sabemos lidar um pouco melhor com ela. Faz parte de nós. Tão parte quanto os momentos felizes. E podemos avançar.
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Bambora
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