Ainda ontem, em conversa, partilhava aquelas que foram algumas das minhas desventuras e que, Graças a Deus, desembocaram naquilo que eu faço e sou hoje.

Acho sempre castiço quando me apercebo de particularidades de mim próprio e das minhas escolhas através de conversas de vão de escada que vou tendo com outros. É como se precisasse que eles sejam o meu espelho e apenas através deles me conseguisse ir destapando. Essa, creio, é uma das vantagens da idade: quando olho para trás consigo ver um percurso, um rumo, que continua a fazer sentido apesar dos acidentes, apesar de algumas más escolhas, sobretudo apesar de alguns dos inebriamentos com que a vida fertilmente me presenteia.

Durante alguns anos acreditei que me perderia com alguma facilidade. Era como um barco no estaleiro, que se consegue manter em doca seca graças aos apoios de que dispõe. Eu pensei, durante muito tempo, que era aí o meu lugar, no conforto da doca seca, onde o maior risco que corria era o cansaço simultâneo desses apoios, o que provocaria a derrocada final. Aprendi, no entanto, tarde mais ainda a tempo, a arte da navegação, a medo no princípio, não arriscando perder  de vista a segurança da margem,  erguendo as velas depois, arriscando o mar alto.

Essa é apenas uma das coisas boas de uma boa conversa: a redescoberta constante , no entanto, sempre nova, de nós próprios e da nossa vida.

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